Perto de completar seis meses do terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não conseguiu harmonizar a relação entre seus 37 ministérios, tem dificuldade para conciliar interesses na ocupação de cargos de segundo e terceiro escalões e acumula na mesa pedidos expressos de troca de ministros.
Em reunião prevista para quinta-feira (15) com toda a equipe ministerial, Lula buscará um novo freio de arrumação. O petista já tentou outras vezes pacificar divergências internas e organizar a relação dos ministros com o Congresso, mas as empreitadas tiveram pouco efeito prático.
O problema não é novo, muito menos exclusividade do atual governo. Partidos que compõem a base e outros que estão dispostos a apoiar o Planalto em votações pontuais exigem nomeações em cargos relevantes, o que gera resistência principalmente entre ministros do PT.
Além do PP, o partido do presidente da Câmara, Arthur Lira, lideranças do Republicanos e do Podemos já indicaram disposição em votar com o governo em determinados temas, mas para isso exigem participação na estrutura do Executivo. O mesmo acontece com siglas que teoricamente compõem a base, mas até agora entregaram poucos votos no Congresso, como o União Brasil.
A ideia de Lula até agora é fazer mudanças pontuais na equipe, especialmente para acomodar problemas internos do União — isso deve resultar na substituição dos titulares das Comunicações, Juscelino Filho (MA), e do Turismo, Daniela Carneiro (RJ). O petista, contudo, não descarta substituir outros ministros que insistam em descumprir as orientações do governo.
Entre os parlamentares, um dos principais alvos de queixas é o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA). O titular de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), também sofre críticas pelo descumprimento de acordos. Mas isso estaria ligado muito mais à resistência de colegas de Esplanada em facilitar seu trabalho do que propriamente à capacidade de Padilha em cumprir a função.
Há pressão de lideranças do Congresso também por mais espaço em cargos nos ministérios da Educação e da Saúde. Com orçamento amplo e capilaridade nos Estados e municípios, as pastas são cobiçadas pelo potencial de visibilidade nas bases eleitorais.
A reunião ministerial servirá para Lula dizer a todos o que já passou a cobrar com frequência em encontros reservados: o seu governo não pode ter vergonha de fazer política. E neste momento isso significa que muitos ministros que ainda não entenderam os recados do Congresso precisarão ceder algumas fatias do bolo pra não ficarem de fora da festa.