Mesmo depois que uma declaração do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi interpretada como uma negativa de intenção de "estatizar" a Braskem, essa hipótese ainda é considerada a mais provável no mercado.
Para marcar o início do acompanhamento sistemático das ações da petroquímica, a Guide Investimentos publicou relatório em que atribui à Petrobras 30% de probabilidade de compra do controle da Braskem, outros 30% de venda a outro candidato - há outros três -, com manutenção da sócio estatal, 20% de venda total, de 100% do negócio, e 20% de que nenhum negócio seja fechado.
No relatório assinado pelo gaúcho Mateus Haag - é bom lembrar que a Guide comprou a Sim;paul, que havia comprado a tradicional Solidus -, a justificativa para a alta probabilidade de uma "estatização" é a lógica de mercado: "Julgamos que esse desfecho tem 30% de chance de ocorrência, sendo o caso mais provável caso ocorra alguma transação, pois a Petrobras tem os recursos necessários para essa compra e a Braskem está recebendo propostas atrativas visto o desconto das suas ações".
Entre os motivos de um eventual novo fracasso na venda, aparecem as ofertas com valor abaixo dos R$ 14 bilhões devidos pela atual controladora, a Novonor (ex-Odebrecht) a bancos, barreiras à aquisição pela Petrobras, por interesses conflitantes, e potenciais decisões judiciais contrárias à Braskem no caso de Maceió (leia abaixo).
Para lembrar, a declaração de Prates que foi considerada uma negativa de venda é a seguinte:
— A intenção não é essa, ninguém falou nisso. Ninguém deu comenda para isso. Nada disso.
Mas no mesmo dia - o do lançamento do Novo PAC, para o qual a Petrobras contribui com seu plano anual de investimentos -, o presidente da estatal havia afirmado:
— Não podemos dar pista do que vamos fazer com a Braskem porque temos o conforto de poder esperar até o último momento para fazer a proposta.
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor, novo nome de Odebrecht, que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. O primeiro ensaio de venda foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado, mas a coluna ouviu de uma parte interessada na compra que ainda não há confiança sobre o valor estimado, hoje cerca de R$ 13 bilhões. Por isso, todas as ofertas de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due diligences. Já existem três propostas sobre a mesa.
Os candidatos "oficiais"
Apollo e Adnoc: fizeram uma proposta não vinculante de compra da Braskem estimada no mercado em R$ 27 bilhões. A gestora de investimentos americana aliou-se à empresa de petróleo de Abu Dhabi para ter não só reforço financeiro mas também um operador técnico confiável.
Unipar: segunda maior produtora de PVC do Brasil, atrás da Braskem, ofereceu um valor estimado em R$ 10 bilhões só pela fatia da Novonor. O grupo tem 77 anos, unidade no polo da Braskem do ABC paulista e presença na origem do polo de Triunfo.
J&F: é a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista que, além da JBS, controla Eldorado Celulose e Banco Original, entre outros negócios. Fez negociações - até onde se sabe, comandadas pessoalmente por Joesley (com a gestão anterior), assessorado por um ex-presidente da Braskem, Carlos Fadigas - sem formalizar proposta até agora.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo