Fontes relacionadas à nova oferta de compra da Braskem feita pela também petroquímica Unipar, projetam que o negocio possa ser fechado em até seis meses. Excesso de otimismo? Pode ser, inclusive porque existe a possibilidade de que a controladora da Braskem, a Novonor (ex-Odebrecht), receba uma terceira proposta.
Mas há confiança de que essa alternativa é muito mais interessante para todos os envolvidos do que a feita pelo fundo americano Apollo e pela petroleira de Abu Dhabi Adnoc.
A coluna apurou que que proposta vem sendo preparada há cerca de um ano e meio, com acompanhamento dos bancos credores da Novonor. Para lembrar, vender a Braskem é um compromisso assumido pela controladora para tentar sair da recuperação judicial na qual entrou em 2019 - logo depois do fracasso da negociação com a LyondellBasell.
Embora a Unipar seja uma empresa muito menor do que a Braskem - em 2022, teve receita líquida R$ 7,3 bilhões, enquanto a da potencial adquirida teve R$ 96,51 bilhões -, uma pessoa que acompanhou a montagem da proposta destaca que os bancos credores teria aprovado a estruturação financeira montada pela Unipar, que não está endividada e tem caixa, o que significa que tem capacidade de endividamento.
Isso seria possível porque se restringe à fatia da Novonor, ao contrário da intenção do competidor, que seria por 100% da Braskem. A fonte ouvida pela coluna sustenta que o valor é um ponto forte da oferta: cerca de R$ 10 bilhões para a controladora. Enquanto o valor efetivo de cada ação, na oferta de Apollo e Adnoc, tenha sido estimado em R$ 34 no mercado, a da Unipar alcança R$ 36,50, conforme nota publicada na manhã desta segunda-feira (12) pela Braskem (veja a íntegra abaixo).
A coluna apurou, ainda, que dentro da Unipar a oferta recebeu o nome de "Operação Amálgama", exatamente por representar uma "postura associativa. com todas as partes", conforme ouviu. Acolhe, por exemplo, a suposta decisão da Petrobras de não se desfazer de negócios petroquímicos, como sinalizou seu presidente, Jean Paul Prates, em entrevista exclusiva à coluna. Permite, ainda, que a Novonor mantenha uma participação minoritária de 4% na Braskem.
Na Unipar, a expectativa é de que a análise da Novonor e dos bancos credores possa avançar ainda durante esta semana. Só a partir daí, seria feito o processo de due dilligence - uma análise detalhada dos números e das instalações da Braskem. O problema que causou o fracasso da primeira tentativa - a falta de transparência com o tamanho do passivo provocado por desabamentos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL) - não é considerado resolvido pelos candidatos à compra.
A íntegra da nota da Braskem
São Paulo, 12 de junho de 2023 - A Braskem S.A. (...) vem comunicar ao mercado em geral que, em função do Fato Relevante divulgado pela Unipar Carbocloro S.A. e de notícias veiculadas na mídia a respeito da participação societária da Novonor na Braskem, solicitou esclarecimentos a Novonor a respeito, que enviou a seguinte correspondência à Companhia:
"Prezados Senhores,
Informamos a V.Sas. que recebemos da Unipar Carbocloro S.A. (“Unipar”), no último dia 10 de junho de 2023, a proposta não vinculante (“Proposta”) para a aquisição do controle da Braskem S.A. (“Braskem”). Segundo os termos da Proposta (i) a Unipar passará a deter 34,366%, (representativas do controle da Braskem) do total de ações de emissão da Braskem (ex-tesouraria), tendo sido cada ação avaliada em R$ 36,5; (ii) a Novonor S.A (“Novonor”) permanecerá com uma participação minoritária, representativa indiretamente de 4% do total de ações de emissão da Braskem atualmente. A Proposta está, ainda, condicionada à realização de uma auditoria confirmatória de certas premissas e à implementação de uma série de condições precedentes, dentre ela o não exercício pela Petróleo Brasileiro S.A. (“Petrobras”) do seu direito de preferência ou seu direito de tag along, conforme previstos, respectivamente, nas Cláusulas 7.5 e 7.12 do Acordo de Acionistas da BRK Investimentos Petroquímicos S.A e da Braskem S.A. em vigor nesta data entre a Novonor e e Petrobras. A Novonor avaliará os termos e condições da Proposta em conjunto com as instituições financeiras detentoras da alienação fiduciária das ações da Braskem S.A. de propriedade da Novonor, assim como tem feito com as demais ofertas anteriormente comunicadas a V.Sas. Não há qualquer decisão, mesmo que preliminar, tomada a respeito da Proposta.
Qualquer evolução material ou vinculante nas discussões será imediatamente comunicada a V.Sas., para que possam adotar as providências de praxe.
São Paulo, 11 de junho de 2023.
Novonor S.A. – Em Recuperação Judicial"
Os candidatos à compra da Braskem
Unipar: é a segunda maior produtora de PVC do Brasil - atrás exatamente da Braskem. Isso significa que uma eventual compra obrigaria a se desfazer de unidades produtoras dessa resina. O grupo tem unidade no polo da Braskem do ABC paulista. Assim como a J&F, a Unipar é uma empresa com origem familiar, fundada por Alberto Soares de Sampaio e comandada até poucos anos pelo genro Paulo Geyer. Frank Geyer Abubakir, neto de Paulo, detém o controle societário da empresa. O presidente do conselho é Bruno Uchino.
Apollo e Adnoc: fizeram uma proposta não vinculante de compra da Braskem estimada no mercado em R$ 27 bilhões. A gestora de investimentos americana aliou-se à empresa de petróleo de Abu Dhabi para ter não só reforço financeiro mas também um operador técnico confiável.
J&F: é a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista que, além da JBS, controla Eldorado Celulose e Banco Original, entre outros negócios. Circula no mercado de que Joesley comanda pessoalmente negociações para a aquisição da Braskem, em modelo que também contemplaria a hipótese de permanência da Petrobras, e manutenção de pequena participação da Novonor, que ficaria como operadora do negócio.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo