Depois da oficialização da proposta recebida pela Novonor (ex-Odebrecht) para compra da Braskem feita pelo fundo americano Apollo e a petroleira de Abu Dhabi Adnoc., outro candidato formalizou interesse na aquisição.
Uma das duas companhias nacionais consideradas potenciais interessadas, a Unipar, formalizou seu interesse em um fato relevante publicado no sábado - sim, bastante inusual - em seu site de relações com investidores.
Conforme a nota, a companhia "enviou, nesta data, uma proposta não vinculante à Novonor, que contempla o pagamento parcial dos Bancos Credores, bem como novas condições para o saldo da dívida remanescente, e a possibilidade de a Novonor continuar com uma participação minoritária indireta na Braskem".
Proposta "não vinculante" é aquela que não representa compromisso definitivo, com possibilidade de alterar a negociação ou mesmo de desistência, sem qualquer ônus. Embora não seja definitivo, esse tipo de oferta não é feito sem que haja avanço nas tratativas.
A Unipar é uma empresa muito menor do que a Braskem. Em 2022, sua receita líquida foi de R$ 7,3 bilhões, a maior nos 53 anos da companhia, resultado de crescimento de 15,9%. Para comparar, a da Braskem foi de R$ 96,51 bilhões, mesmo com queda de 9%. Ou seja, trata-se de uma tentativa de abocanhar uma presa 13 vezes maior. Não é simples, mas na rocambolesca história da venda da Braskem, nada pode ser considerado impossível.
Além de apresentar uma solução de mercado para a compra - lançamento de oferta pública de aquisição de ações por alienação de controle da Braskem -, a Unipar oferece uma alternativa mais viável do ponto de vista da suposta determinação da Petrobras de manter sua fatia na empresa:
"No momento adequado, a Companhia negociará com a Petrobras sua participação (...), de forma satisfatória a todas as partes envolvidas, que poderá eventualmente incluir a renegociação do atual Acordo de Acionistas, dentre outros aspectos relevantes, para sua adequação à nova estrutura de capital da Braskem".
Na proposta de Apollo e Adnoc, a oferta era de compra de 100% das ações da Braskem. Embora nunca tenha confirmado explicitamente a decisão de não sair da sociedade, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, disse em entrevista exclusiva à coluna que "é impossível uma empresa de petróleo pensar em transição energética sem passar pela petroquímica".
A Novonor tem 50,1% das ações ordinárias e 38,3% do capital total da petroquímica, enquanto a Petrobras tem 47% das ordinárias e 36,1% do total. A Braskem é dona de quase todas as operações do polo petroquímico gaúcho, em Triunfo, enfrenta concorrência da Zona Franca de Manaus, mas ainda é uma das maiores indústrias do Estado.
Os candidatos
Unipar: é a segunda maior produtora de PVC do Brasil - atrás exatamente da Braskem. Isso significa que uma eventual compra obrigaria a se desfazer de unidades produtoras dessa resina. O grupo tem unidade no polo da Braskem do ABC paulista. Assim como a J&F, a Unipar é uma empresa com origem familiar, fundada por Alberto Soares de Sampaio e comandada até poucos anos pelo genro Paulo Geyer. Frank Geyer Abubakir, neto de Paulo, detém o controle societário da empresa. O presidente do conselho é Bruno Uchino.
Apollo e Adnoc: fizeram uma proposta não vinculante de compra da Braskem estimada no mercado em R$ 27 bilhões. A gestora de investimentos americana aliou-se à empresa de petróleo de Abu Dhabi para ter não só reforço financeiro mas também um operador técnico confiável.
J&F: é a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista que, além da JBS, controla Eldorado Celulose e Banco Original, entre outros negócios. Circula no mercado de que Joesley comanda pessoalmente negociações para a aquisição da Braskem, em modelo que também contemplaria a hipótese de permanência da Petrobras, e manutenção de pequena participação da Novonor, que ficaria como operadora do negócio.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo