O anúncio oficial de que a LyondellBasell desistiu de comprar a Braskem de seu atual controlador, a Odebrecht, feito na manhã desta terça-feira (4), surpreendeu quem não acompanhava de perto a evolução do negócio. Mas foi menos inesperado para quem aguardava, há meses, o desfecho da transação. Quando as tratativas para uma operação desse porte – era estimado em ao menos R$ 30 bilhões – são anunciadas publicamente, como ocorreu em junho do ano passado, é um sinal de que o acordo final está muito próximo. Fontes com acesso às partes projetavam conclusão para outubro seguinte.
Era tão certa a conclusão positiva das conversas que a LyondellBasell esboçou uma aproximação do mercado brasileiro em várias frentes. Apesar disso, começaram a surgir os problemas. O primeiro foi a eleição: qual seria a política para o setor de petróleo e derivados do vencedor? Hoje, cinco meses depois da posse, ainda há dúvidas. Em seguida, surgiu a dúvida sobre o interesse da Petrobras, sócia relevante da Odebrecht na Braskem, de também vender sua parte. Mesmo com um programa de desinvestimento em curso, a estatal enfrentou resistência interna para acompanhar a oferta.
A gota d'água veio nas duas últimas semanas. A Braskem enfrentou problema ambiental com uma mina de sal-gema em Alagoas, e esse fato não foi revelado ao comprador. Uma outra controlada pela Odebrecht, a Atvos, que produz etanol, entrou em recuperação judicial. Isso abriu a discussão sobre se a holding também não teria de pedir proteção contra credores.
No mercado, corre a versão de que os advogados da Lyondell identificaram uma falha essencial: o lado vendedor não estaria cumprindo seu papel de informar todos os eventos que poderiam impactar na leitura de que as ações da Braskem estavam "livres e desembaraçadas".
Pragmáticos, analistas não descartam a volta futura da gigante holandesa à mesa de negociações – com uma oferta de valor muito mais baixo. Por ora, o resultado é muito negativo para a Odebrecht, que contava com a venda de seu braço petroquímico para tentar superar uma grave crise financeira, mas não deve atingir a operação da Braskem no Rio Grande do Sul – a empresa é dona de quase todo o polo petroquímico de Triunfo.
Mesmo que a Odebrecht seja obrigada a pedir recuperação judicial, a Braskem tem resultados financeiros sólidos. O único risco é seu principal acionista necessitar
de recursos tão desesperadamente a ponto de ameaçar uma operação saudável.