Maior petroquímica da América Latina e com uma de suas principais bases de produção brasileiras no Rio Grande do Sul, a Braskem está próxima de ter novo dono. Majoritária na companhia, a Odebrecht confirmou na sexta-feira (15) que negocia a venda de sua participação para a holandesa LyondellBasell, uma das líderes no ramo e que passaria a ser a maior do mundo em produtos como polietileno e polipropileno, matérias-primas da indústria de plásticos.
A candidata à aquisição, que namora a brasileira desde ao menos o ano passado, tem a exclusividade nas tratativas para a compra, confirmou a Braskem em fato relevante publicado pela manhã. A petroquímica teria sido avaliada pela LyondellBasell em cerca de R$ 43,7 bilhões. A empreiteira tem 50,1% da ações ordinárias da companhia (com direito a votos) e 38,3% do capital total. Principal sócio e com quem vive às turras, a Petrobras tem outros 47% dos papéis ordinários e 36,1% do total. Conforme o comunicado, "caso a transação seja concretizada, serão garantidas aos demais acionistas da companhia as mesmas condições que vierem a ser negociadas para a Odebrecht".
Isso significa que a estatal poderia vender a sua parte nos mesmos termos. A petroleira informou que, se a venda se concretizar, vai analisar as condições da oferta "de forma a avaliar o exercício dos seus direitos previstos no acordo de acionistas". Devido à necessidade de fazer caixa e reduzir o investimento, a Petrobras já vinha demonstrando interesse em vender a sua fatia na Braskem.
Ainda não está claro como seria o pagamento. No caso da Odebrecht, ocorreria por ações — a empreiteira, pivô da Lava-Jato, ficaria com cerca de 10% da nova companhia. Para a Petrobras, seriam papéis e dinheiro.
— A petroquímica vive um superciclo de alta e isso valoriza a transação. Parece ser um negócio bom para todo mundo, considerando que quem está entrando é uma empresa internacional e esse é um mercado de organizações globais — diz João Luiz Zuñeda, da consultoria Maxiquim.
Com 41 unidades industriais em quatro países e faturamento de R$ 58 bilhões no ano passado, a Braskem surgiu em 2002 com a integração de seis empresas da área da Odebrecht e do grupo Mariani. Era o início da consolidação do setor no país. Em 2007, quando adquiriu em conjunto com a Petrobras e o Ultra os negócio da Ipiranga, ficou com os ativos petroquímicos do conglomerado de origem gaúcha. Assim, passou a controlar a maior parte do polo de Triunfo e dominar o segmento no país.
Entidade que à época fez oposição ao avanço da Braskem e pregava o controle do polo pela Petrobras, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas de Porto Alegre e Triunfo (Sindipolo) ainda espera a concretização do negócio para, depois, avaliar os planos e se posicionar.
— Quando chega uma nova empresa, precisamos saber como pretende trabalhar. Até hoje, nenhuma das integrações deixou de causar problemas aos trabalhadores. Isso nos gera preocupação — diz o presidente do Sindipolo, Gerson Antônio Borba, que aponta redução do quadro, aumento de terceirizações e perda de benefícios como consequência do domínio da Braskem no polo, que abriga cerca de 5 mil trabalhadores, incluindo companhias menores.
Na sexta-feira, as ações mais negociadas da Braskem na bolsa de São Paulo subiram 20%.
O grupo comprador
Com sede na Holanda, a LyondellBasell teve no ano passado receita de US$ 34 bilhões, o equivalente hoje a cerca de R$ 126 bilhões. É resultado da compra da americana Lyondell pela europeia Basell, em 2007.
O negócio foi avaliado à época em US$ 12,14 bilhões. Fabrica produtos químicos, combustíveis e polímeros, como polipropilenos e polietilenos, ramo em que também é forte desenvolvedora de tecnologia. A empresa tem cerca de 13 mil empregados em 55 unidades de produção e atuação em 17 países. No Brasil, tem uma pequena fábrica de compostos de polipropileno em Pindamonhangaba (SP) voltados à indústria automobilística. A LyondellBasell faz parte do Access Industries, com sede nos Estados Unidos, de propriedade do bilionário Leonard Blavatnik, que também tem negócios nas áreas de entretenimento, mercado imobiliário e tecnologia.
Quem é o bilionário dono da Lyondellbasell
Leonard Blavatnik, 61 anos, nasceu na Ucrânia, cresceu em Moscou e mudou-se para os Estados Unidos em 1978. É cidadão americano e britânico. O empresário e filantropo é considerado um dos homens mais risos do Reino Unido e dos Estados Unidos. Fundou a Access Industries em 1986, como uma empresa de investimentos, mas deu seu salto rumo ao seleto grupo dos bilionários quando ingressou no setor do petróleo, nos anos 1990. Em 2005, comprou a Basell da Shell e da Basf. Em 2011, adquiriu a Warner, uma das maiores gravadoras do mundo. Sua fortuna pessoal é estimada em US$ 19,6 bilhões _ cerca de R$ 73 bi.