Desde que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que poderia vender as ações da estatal na Braskem... ou comprar - ainda no final de março -, há ondas de especulação no mercado.
Na quarta-feira (14), depois de nova notícia sobre a possibilidade de a estatal cobrir a proposta feita pela Unipar, avaliada em torno de R$ 10 bilhões, Prates afirmou que "a decisão vai ser tomada no devido momento" e que o direito de preferência previsto no acordo de acionistas da Braskem dá conforto à Petrobras.
Então, a resposta curta para a pergunta do título é "sim". Mas é claro que tem muitos "poréns". Para justificar o "sim", a Petrobras tem participação de 36,1% no capital total e de 47% das ações ordinárias da Braskem, pouco menores do que as fatias da controladora, a Novonor (ex-Odebrecht): 38,3% do total, 50,1% das ordinárias.
Exatamente por ser uma sócia relevante, a Petrobras tem um acordo de acionistas com a Novonor que lhe garante preferência de compra em caso de venda. Se até a gestão anterior era impensável que exercesse esse direito - havia mais interesse em vender ativos do que em adquirir -, agora já não há tanta certeza.
Em entrevista à coluna, Prates afirmou que "o futuro na transição energética passa, entre outras coisas, pela petroquímica". A coluna, claro, quis tentar avançar, mas o presidente da Petrobras avisou que "o plano estratégico hoje não permite que a gente faça grandes elucubrações sobre projetos petroquímicos" e já emendou afirmando que "queremos alterar particularmente esse capítulo". Para esclarecer, "plano estratégico" é uma espécie de mapa dos investimentos com os quais a estatal se compromete. O atual não prevê aportes nessa atividade, mas Prates já avisou que vai "ajustar" os termos até "junho ou julho", antes da revisão habitual de final de ano. Para completar, indagou:
— Afetaria muito o mercado ou ofenderia muito algum agente se a gente dissesse que vai analisar petroquímica?
Ou seja, não é preciso ser Sherlock Holmes para identificar o interesse da Petrobras em petroquímica. É mesmo elementar. Mas aí vêm os "poréns". Estatizar uma empresa da dimensão e com a presença global da Braskem não é só uma questão de mudar plano estratégico corporativo - por mais que isso só também não seja simples. É uma decisão com repercussão política doméstica e mesmo internacional. A companhia hoje privada tem unidades relevante nos Estados Unidos e no México, além de presença na Europa.
Além disso, os principais clientes da companhia petroquímica no Brasil, que são fábricas de produtos plásticos - de embalagens a utensílios de cozinha, passando por peças automotivas - já expressaram "preocupação" com a hipótese. Ao jornal Valor Econômico, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, ponderou que esse mercado já é muito "concentrado e protegido" e o resultado da venda da Braskem pode acentuar essas duas características, deixando mais vulneráveis cerca de 12 mil transformadores plásticos no país.
O imbroglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor, que é o novo nome de Odebrecht, que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. O primeiro ensaio de venda era uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações do que terá de gastar com indenizações, mas a coluna ouviu de uma parte interessada na compra que ainda não há confiança sobre o valor estimado hoje em quase R$ 13 bilhões. Por isso, todas as proposta de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due dilligences.
Atualmente, há duas propostas sobre a mesa - a primeira foi feita em conjunto pela gestora de investimentos americana Apollo e a petroleira de Abu Dhabi Adnoc, a segunda pela Unipar. Ainda há expectativa de que a J&F - dona da JBS - possa formalizar uma terceira, porque chegou a abrir negociações, sem formalizar oferta.
Os candidatos
Apollo e Adnoc: fizeram uma proposta não vinculante de compra da Braskem estimada no mercado em R$ 27 bilhões. A gestora de investimentos americana aliou-se à empresa de petróleo de Abu Dhabi para ter não só reforço financeiro mas também um operador técnico confiável.
Unipar: segunda maior produtora de PVC do Brasil, atrás da Braskem, ofereceu um valor estimado em R$ 10 bilhões só pela fatia da Novonor. O grupo tem 77 anos, unidade no polo da Braskem do ABC paulista e presença na origem do polo de Triunfo.
J&F: é a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista que, além da JBS, controla Eldorado Celulose e Banco Original, entre outros negócios. Fez negociações - até onde se sabe, comandadas pessoalmente por Joesley (com a gestão anterior), assessorado por um ex-presidente da Braskem, Carlos Fadigas - sem formalizar proposta até agora.
Petrobras: seu atual presidente, Jean Paul Prates, tem explicitado interesse em não apenas manter, mas aumentar, investimentos em petroquímica. Até agora, é impedido pela previsão do plano estratégico, que não prevê aportes nesse segmento. Prates já afirmou que vai ajustar esse plano até o final deste mês, e revisar até o final do ano.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo