A coluna vem acompanhando as negociações, que já registraram várias reviravoltas, para encontrar um novo dono – ou novos donos – para a Braskem, dona de quase todo o polo petroquímico gaúcho.
A mais recente especulação é de que a companhia pode ser vendida à J&F, controladora da JBS. Ganhou tanta força que a Braskem enviou nota ao mercado nesta segunda-feira (2) com a posição de seus dois maiores acionistas (veja a íntegra abaixo). A conclusão a partir das declarações oficiais é de que o negócio não está fechado – ainda.
A Novonor afirma que "até o presente momento não houve evolução material em qualquer alternativa relacionada a alienação de sua participação na Braskem". A coluna destacou o trecho que não significa, necessariamente, que não existam conversas com a J&F.
A expressão "não houve evolução material" pode significar apenas que não se chegou a um preço que ambos aceitem. É importante comparar com a resposta da Petrobras, com uma negativa mais absoluta: "não está conduzindo nenhuma estruturação de operação de venda no mercado privado e que não tem conhecimento sobre negociações com a J&F".
O contraste no tom das respostas indica que, sim, a Novonor pode estar em tratativas com a J&F para vender sua parte. Nesse caso, Petrobras ainda estaria fora dessa negociação. No mercado, a informação era de que o acordo envolveria as duas empresas. A Novonor tem 50,1% das ações ordinárias e 38,3% do capital total da petroquímica, enquanto a Petrobras tem 47% das ações ordinárias e 36,1% do capital total.
A cifra cogitada para o negócio seria de cerca de R$ 27 bilhões. A especulação ganhou peso porque a J&F seria assessorada pela CF Partners, do ex-presidente da Braskem Carlos Fadigas. Como Novonor e Petrobras têm um acordo de acionistas, o comprador das ações da controladora (a ex-Odebrecht) deve ampliar a oferta à Petrobras, segunda maior acionista, o mesmo valor das ações, o chamado "tag along". A J&F já foi além do setor de alimentos comprando minas de ferro e manganês da Vale. A compra da Braskem seria um prolongamento dessa estratégia de diversificação.
A Novonor (novo nome da Odebrecht) e a Petrobras haviam entrado em acordo para vender juntas todas as ações preferenciais da dona da maior parte do polo petroquímico de Triunfo, mas a operação foi cancelada. Antes, ainda em 2019, chegou a ser anunciada uma negociação para venda da Braskem à LyondellBasell, que desistiu por não ter sido informada sobre o tamanho do risco de estragos provocados por mineração em Alagoas.
COMUNICADO AO MERCADO
São Paulo, 02 de maio de 2022 - A Braskem S.A. (...) vem comunicar ao mercado em geral que, em função de notícia veiculada na mídia a respeito de proposta para a compra da Braskem apresentada pela J&F e conforme comunicados ao mercado divulgados nos dias 07.04.22 e 11.04.22, não é parte de eventuais discussões dos seus acionistas Novonor e Petrobras (“Acionistas”) sobre a venda das suas participações acionárias detidas na Companhia, razão pela qual solicitou esclarecimentos aos seus Acionistas, os quais informaram o seguinte:
(A) Novonor:
Em atendimento ao questionamento abaixo, a Novonor reitera suas manifestações anteriores, ressaltando que até o presente momento não houve evolução material em qualquer alternativa relacionada a alienação de sua participação na Braskem. Permanecemos a disposição para esclarecimentos adicionais.
(B) Petrobras:
A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras reafirma que sua participação na Braskem faz parte da carteira de ativos à venda pela companhia, conforme divulgado no Plano Estratégico 2022-2026. A Petrobras informa que não está conduzindo nenhuma estruturação de operação de venda no mercado privado e que não tem conhecimento sobre negociações com a J&F. A companhia manterá o mercado informado a respeito de eventuais informações relevantes sobre o assunto.
A Braskem informa que seguirá apoiando os Acionistas e manterá o mercado informado sobre desdobramentos relevantes, em cumprimento com as legislações aplicáveis.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo