A semana começa com o eco de duas declarações fora da curva feitas por estrelas do governo Bolsonaro, os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, na última sexta-feira.
O primeiro recorreu a "macacos em Marte", e o segundo evocou o "pinguim de Madagascar" em atos nos quais representavam o governo.
O caso de Guedes é mais claro. Sob intensa pressão provocada pelo impasse no orçamento, o ministro da Economia tentou explicar a investidores, a convite do Bradesco BBI, a desorganização entre governo e Congresso:
— Você está aterrissando a nave em Marte. Aí chega um macaco lá, aperta três botões, chuta o painel e começa a desviar a nave. O macaco, no fundo, é o desacerto entre nós. Não é pessoal, não é ninguém. Um macaco pode ter sido da economia, o outro macaco está no Congresso, outro macaco está lá no entorno do presidente, outro macaco foi um ministro.
Até então, Guedes vinha se atendo à metáfora futebolística. De maneira resumida, o Congresso aprovou um orçamento da União que definiu pagamento obrigatório para R$ 30 bilhões dos R$ 48,8 bilhões previstos em emendas parlamentares. Para abrir espaço sem furar o teto de gastos, ignorou valor semelhante, ao redor de R$ 30 bilhões — há diferentes cálculos sobre o valor exato, mas a dimensão é essa. Guedes dizia que havia sido resultado do "desentrosamento" do time formado por integrantes do governo e líderes do Congresso.
Agora, Guedes quer que o presidente vete o orçamento, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-DEM), avisou que não aceita porque tudo estava alinhado com a equipe econômica. Ao dizer que "um macaco pode ter sido da economia", o ministro pretende permitir o veto dividindo a responsabilidade por seus erros. Deixou isso claro:
— O presidente, se ele tiver que vetar totalmente, em nenhum momento estará indo contra o Congresso. O que ele estará dizendo é o seguinte: ‘Olha, erramos alguma coisa na coordenação e precisamos consertar esse troço’.
Mais complexa é a explicação sobre a frase de Tarcísio. Se Guedes é uma estrela cadente, o ministro da Infraestrutura ganhou brilho depois dos leilões realizados na semana passada. Exatamente depois da última batida de martelo, em contexto que remetia a um elogio a sua equipe, soltou essa:
— Estou como o pinguim de Madagascar, só me cabe sorrir e acenar.
Freitas é considerado um oásis de eficiência no governo Bolsonaro, que dias antes havia alfinetado o colega da Economia dizendo que "todo mundo sabe" que estruturar um processo de concessão leva "um a dois anos". Ocorre que, na origem, a frase embute um cenário inquietante. Na última cena do filme em desenho animado Madagascar, o diálogo é assim:
— Capitão, devemos informar que o barco está sem gasolina?
— Não rapazes, apenas sorriam e acenem, sorriam e acenem.
Será que o ministro quis dizer que o barco está sem gasolina? Coincidentemente, foram cinco terminais portuários que foram a leilão na sexta-feira (9), dia em que fez a citação.