A surpresa com a oferta bilionária para o preço mínimo de R$ 130,2 milhões pelo Bloco Sul, formado por nove aeroportos no Sul, dos quais três no Rio Grande do Sul, o que significou ágio de 1.534% reforçou o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Embora o lance de R$ 2,1 bilhões tenha vindo de um grupo nacional, a CCR, como se esperava, grandes operadoras internacionais participaram do leilão, e inclusive a francesa Vinci arrematou o Bloco Norte, que tem sete terminais, com o de Manaus como "joia da coroa". O Bloco Central também ficou com a CCR.
Ao falar no final do leilão, que levou menos de uma hora, o ministro desabafou:
— As pessoas me perguntavam 'você está louco, vai fazer leilão de aeroportos na maior crise do setor aéreo?', e eu respondia 'vamos'.
Tarcísio justificou que tinha de "aproveitar a oportunidade" do momento de "extrema liquidez" lá fora. Consultores e bancos, como o BTG Pactual, advertiam que o momento do Brasil, de alta incerteza política e agravamento da pandemia, reduziria o apetite dos investidores estrangeiros. No final, a presença estrangeira foi maior do que a esperada, em grande parte pelo esforço feito no Ministério da Infraestrutura.
Na véspera do leilão, o gaúcho Ricardo Portella, que atua no setor da construção pesada e acompanha a movimentação para o leilão dos aeroportos, dizia que a modelagem feita pelo Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) havia sido muito bem feita e prometia bons resultados. Também previa a integração de investimentos de infraestrutura representada por empresas como a CCR, mais conhecida como importante concessionária de estradas, como a freeway, mas que já opera aeroportos, como o de Confins, em Minas Gerais. Mas diz que ágios de 1.500% não estavam no seu radar:
— Mostra que o Brasil está na primeira linha dos investidores. O Brasil está barato, os ágios são malucos, mas é um bom sinal. Os investidores fogem dessa disputa política que nós temos e enxergam além da pandemia, que não vai durar para sempre.
Marco Cauduro, CEO da CCR, também elogiou a modelagem ao dizer que, da forma como o leilão foi montado, os investidores conseguem "entender e precificar" os riscos envolvidos. O grupo terá a concessão dos aeroportos de Bagé, Pelotas e Uruguaiana por 30 anos, mas terá de fazer os investimentos previstos de R$ 206 milhões nesses três terminais até 2025.
O ministro da Infraestrutura confirmou a fama de ilha de eficiência em um governo marcado por graves erros estratégicos e falhas de operação. A fúria com que bateu o martelo dá uma ideia dos obstáculos que teve de derrubar para obter esse resultado, inclusive dentro do governo. Não precisa ter terminado seu discurso de vitória com uma deselegância: criticou a "batida tímida" de uma representante da CCR, Cristiane Gomes, CEO da CCR Airports.
Já Cristiane não perdeu a elegância nem ao responder se os três aeroportos gaúchos seriam os "patinhos feios" do Bloco Sul:
— Se olhados isoladamente, são deficitários, sim, mas nenhum é patinho feio.