Em meio à crise vivida pela aviação civil, 22 aeroportos passam para administração de grupos privados no país. Válida por 30 anos, a concessão dos terminais foi confirmada nesta quarta-feira (7), durante leilão promovido pelo governo federal na bolsa de valores de São Paulo (B3). Ao atrair o interesse de investidores, a disputa garantiu uma arrecadação inicial de R$ 3,3 bilhões para a União.
Os 22 aeroportos foram divididos em três blocos. O principal é o Sul, que reúne nove terminais. Três operações ficam em municípios gaúchos: Bagé, Pelotas e Uruguaiana.
A Companhia de Participações em Concessões (CPC) venceu a disputa pelo Bloco Sul com uma proposta de R$ 2,1 bilhões. Ou seja, superou com folga o lance mínimo exigido para a concessão. O montante representa ágio (valor excedente) de 1.534% em relação ao preço mínimo estipulado para o lote (R$ 130,2 milhões).
A CPC é uma empresa do Grupo CCR, já conhecido dos gaúchos. É que, em 2018, o grupo venceu o leilão das BRs 101, 290 (freeway), 386 e 448 (Rodovia do Parque).
O Bloco Central, com seis aeroportos, também foi arrematado pela CPC, por R$ 754 milhões, ágio de 9.156%. O Bloco Norte, com sete terminais, foi concedido para a francesa Vinci, por R$ 420 milhões, ágio de 777,47%.
Conforme o governo, o investimento em melhorias nos 22 aeroportos chegará a cerca de R$ 6 bilhões ao longo dos 30 anos de concessão. Dessa quantia, R$ 2,8 bilhões devem ser destinados para o Bloco Sul, também composto por Curitiba (PR), Foz do Iguaçu (PR), Navegantes (SC), Londrina (PR), Joinville (SC) e Bacacheri (PR).
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O Ministério da Infraestrutura informou que o aporte previsto para Bagé, Pelotas e Uruguaiana é de R$ 206 milhões. Hoje, os ativos estão sob o guarda-chuva da Infraero.
Na prática, o vencedor de cada disputa terá de administrar todos os terminais que compõem o respectivo bloco. Na visão de analistas, a estratégia buscou impedir que empreendimentos menores ficassem sem interessados. É o caso do trio gaúcho.
Os grupos investidores também precisarão pagar ao governo um percentual da receita obtida com as concessões a partir do quinto ano dos contratos. A pandemia fez a demanda por voos despencar a partir de 2020.
Contudo, o investimento nos aeroportos mira em prazo mais longo, o que estimulou a atração de interessados. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirma que os 22 terminais leiloados nesta quarta-feira respondem por aproximadamente 11% do tráfego de passageiros no país, "em condições normais de demanda".
Em entrevista após o leilão, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, reconheceu o momento de dificuldades na aviação, mas celebrou o resultado da disputa. Ele relatou que o país "precisa correr atrás de investimentos agora":
— Começamos com o pé direito, um leilão extraordinário. Há de ressaltar a presença de grandes grupos que acreditam no Brasil. Vieram para cá e apresentaram suas propostas.
Na visão do economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, o leilão "foi um sucesso". Entretanto, ele pondera que o Brasil vive momento de incertezas políticas, crise fiscal e impactos da pandemia, o que segue no radar de investidores.
— O leilão foi bem-sucedido, até mais do que se esperava. Agora, vamos ver como o mercado vai reagir — diz.
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"Infra Week"
A disputa desta quarta faz parte da sexta rodada de concessão aeroportuária do governo federal. Na quinta-feira (8), ocorre o leilão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), no trecho de Ilhéus a Caetité, na Bahia.
Por fim, na sexta-feira (9), serão ofertados cinco terminais portuários. Um fica no porto de Pelotas, e os outros quatro estão localizados no Maranhão.
O terminal do município gaúcho é voltado especialmente para cargas de toras de madeira. Por isso, contribui para a cadeia logística da celulose. A estrutura tem área de cerca de 23 mil metros quadrados.
A sequência de leilões foi apelidada de Infra Week — semana da infraestrutura, no termo em inglês.
Os três aeroportos gaúchos
Bagé
O Aeroporto Comandante Gustavo Kraemer fica na zona rural de Bagé, a 60 quilômetros da fronteira com o Uruguai. A partir de maio, deve ter voos comerciais ligando o município a Porto Alegre, segundo anúncio feito pela Azul Linhas Aéreas em fevereiro. O terminal já opera com aeronaves particulares, táxis aéreos e jatos executivos.
Dimensões da pista: 1,5 mil metros x 30 metros
Terminal de passageiros: 600 metros quadrados
Passageiros embarcados e desembarcados:
- Em 2019: 1.950
- Em 2020: 1.774
Pelotas
O Aeroporto João Simões Lopes Neto fica a sete quilômetros do centro de Pelotas. Já recebe voos comerciais regulares da Azul que conectam o município a Porto Alegre
Dimensões da pista: 1,9 mil metros x 42 metros
Terminal de passageiros: 1,1 mil metros quadrados
Passageiros embarcados e desembarcados:
- Em 2019: 34.760
- Em 2020: 10.107
Uruguaiana
O Aeroporto Rubem Berta fica a seis quilômetros do centro de Uruguaiana e a oito quilômetros da fronteira com a Argentina. Já recebe voos comerciais regulares da Azul que conectam o município a Porto Alegre
Dimensões da pista: 1,5 mil metros x 30 metros
Terminal de passageiros: 800 metros quadrados
Passageiros embarcados e desembarcados:
- Em 2019: 20.835
- Em 2020: 4.671
Fontes: Infraero, Anac e Ministério da Infraestrutura