O iminente colapso do sistema de atendimento à saúde de Porto Alegre exigiu restrições mais rígidas e, ao que tudo indica, lamentavelmente, deve cobrar mais. A situação é grave e não há sinais de que vá melhorar no curto prazo.
Em médio e longo prazos, a única solução é a que todos sabemos: a vacinação é a chave que abre todos os fechamentos.
Por isso, a inexplicável "indignação" diante do encerramento das atividades às 20h deveria ser direcionada à origem do problema, do qual essa medida é o mero efeito: o sistemático atraso do plano nacional de imunização, tanto por convicção quanto por incompetência. Há promessas tanto da iniciativa privada, que promete direcionar todos os esforços ao SUS, quanto de governos de Estado e de prefeituras.
Até o Congresso, diante da atitude do governo Bolsonaro de criar problema onde outros países viram solução, tomou a iniciativa. A medida foi necessária para desfazer a dificuldade criada com a cláusula que isentava as fabricantes Pfizer e Biontech de efeitos colaterais provocados pela sua fórmula — até agora, um percentual ínfimo de casos leves. Foi aceita sem alarde em 60 países, mas usada pelo Planalto para recursar a oferta de venda dos laboratórios.
Embora novas doses estejam previstas para o Estado, chegam a conta-gotas: 135 mil da Oxford/AstraZeneca, 84 mil da Coronavac. Ajuda, mas não resolve. O governo do Rio Grande do Sul já assinou um pré-acordo com a União Química, responsável pela fórmula russa Sputnik V, e quer conversar com a Pfizer. Nos dois casos, há dificuldades: a primeira enfrenta resistência na Anvisa, a segunda enfrenta problemas até para abastecer a rica e poderosa União Europeia.
Se até há poucos dias era preciso confiar na ciência para apostar na solução da vacina, agora há evidências práticas: perto de imunizar 90% da população, Israel começa a retomar a normalidade, liderado por Benjamin Netanyahu, um líder controverso, mas admirado por Bolsonaro. No Reino Unido, com percentual bem inferior, o governo anunciou um plano de reabertura gradual que embute um sonho: sem recuos.
No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que sempre gostou de usar a palavra "ciência" em seus pronunciamentos sobre a pandemia, contrariou a recomendação do comitê científico que ele mesmo formou para adotar mais restrições diante do risco de colapso. Essa orientação será reforçada em breve, como informou a colega Rosane de Oliveira. Se a ciência prevalecer, os resultados são previsíveis. O avanço da covid-19 é triste, é desastroso. Mas a irresponsabilidade mora em Brasília.