Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta quarta-feira (3), o diretor científico do Grupo União Química, farmacêutica responsável pela produção da vacina Sputnik V no Brasil, falou sobre os resultados de eficácia do imunizante russo, publicados na última terça-feira (2), e criticou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O órgão regulador brasileiro aponta falta de dados básicos para poder liberar o uso emergencial do produto, que é 91,6% eficaz, segundo estudo publicado na The Lancet.
— Vemos variantes do coronavírus, sabe por quê? Quantidade de transmissão. Quanto mais vírus circulando, maior a chance de ocorrer mutação. Não avisaram o vírus que tem que esperar as decisões da Anvisa no ritmo burocrático que temos lá — afirmou Miguel Giudicissi Filho.
A União Química planeja trazer ao país 10 milhões de doses prontas até março. Além disso, programa produzir outras 150 milhões em 2021 — e espera fabricar o insumo farmacêutico ativo (IFA) no país. A Anvisa, por sua vez, vem apontando falta de dados no que diz respeito à última etapa do estudo, que avalia a segurança e a eficácia do estudo, e promovendo reuniões para esclarecimento com os representantes da Sputnik V.
Faltam também pesquisas de fase 3 do produto no Brasil. Há pouco mais de uma semana, a Anvisa chegou a devolver um pedido da União Química para uso emergencial do imunizante exatamente porque esta etapa dos estudos ainda não foi autorizada no país.
— Eu não sei como avaliar isto (processo da Anvisa). O que posso dizer é que eles teriam que correr, nós todos temos, para tentar segurar esta pandemia no nível que ela está hoje, não deixar que este tsunami aumente a ponto de perdermos o controle — avaliou o diretor científico do Grupo União Química.
— O certo é que não existe vacina para todo mundo. Os países ricos, Alemanha, Bélgica, Holanda, estão negociando com todo mundo para poder cobrir a sua população. Os países em desenvolvimento ou pobres vão ficar para trás nesta corrida. É uma corrida de velocidade com obstáculos. Não adianta fazermos muita graça do ponto de vista regulatório —completou.
A União Química possui sede em Santa Maria, no Distrito Federal, de onde poderá produzir a Sputnik V. Além da própria Rússia, a vacina já foi autorizada por autoridades sanitárias de países como México, Argentina, Bolívia, Venezuela, Argélia, Sérvia, Bielorrússia e Palestina.