Depois da reunião com o governador Eduardo Leite, na tarde desta terça-feira (26), Fernando de Castro Marques, presidente da União Química, empresa privada que representa a vacina Sputnik V (é "ve", não "cinco) no Brasil, afirmou que tem tudo organizado para trazer 10 milhões de doses ao Brasil para uso emergencial, além de planos para produzir em suas unidades até o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA).
Segundo Marques, a empresa que tem contato com o governo russo vai atuar em dois ritmos: um para atender a pedidos como o do governo do Rio Grande do Sul, caso se confirme, outro para fazer a fase 3 dos testes, exigência da Anvisa para concessão da autorização definitiva.
– O governador veio tomar pé sobre como está nosso projeto de produzir a Sputnik em território nacional, se vai participar no PNI. E se houver obstáculos, estuda comprar pelo Estado – disse Marques à coluna.
E a coluna aproveitou para também "tomar pé" sobre a situação da imunização produzida pelo Instituto Gamaleya, que já foi administrada a argentinos (governo "de esquerda"), húngaros (governo de "extrema direita") e, segundo Marques, a "milhões de russos".
Antes de mais nada, é preciso admitir que é a fórmula sobre a qual há mais dúvidas. Marques lembrou que o resultado da fase 3 apontou 91,4% de eficácia, reportado à Organização Mundial da Saúde e pela revista The Lancet, referência no acompanhamento das descobertas sobre o combate à covid-19. A fórmula é baseada em vetor de adenovírus, que causa gripe, que recebe partes do coronavírus (os "espinhos" da "coroa") e precisa de duas doses, com intervalo de 21 dias.
Segundo Marques, o contato com o governo russo veio de um estudo desenvolvido pela União Química de introduzir um produto que já fabrica no Brasil e no Exterior, a somatropina bovina recombinante, destinada a aumentar a lactação das vacas. A Rússia importa cerca de 20% do leite que consome, portanto tem grande interesse nessa medicação.
– Estávamos tratando disso quando surgiu a covid-19. Fizemos acordo com o fundo soberano russo para produzir a Sputnik V para o Brasil e a América Latina. A Rússia está nos passando a tecnologia sem cobrança de royalties, porque tem interesse em ajudar as nações a se livrar dessa pandemia. Vamos fazer o IFA na biotech em Brasília e o fracionamento na nossa fábrica em Guarulhos, a Inovat. Temos oito fábricas no Brasil, com muita produção para terceiros, como a Novartis, a Zoetis, diversas empresas transnacionais. Somos uma das maiores empresas de produtos hospitalares, atuamos em oftalmologia. em anestésicos e na saúde animal – relatou Marques.
Como diz o ditado, quando a esmola é demais, o santo desconfia, e a coluna quis saber qual o motivo da "generosidade" russa. Marques ponderou que o país está muito focado em garantir sua segurança alimentar e vem direcionando muitos esforços a melhorar suas relações exteriores.
– Estamos pensando no caminho legal, vamos cumprir todas as exigências. Entramos com pedido de autorização para uso emergencial para 10 milhões de doses que a Rússia está disponibilizando para o Brasil com embarque entre fevereiro e março. Nas nossas unidades, estamos fazendo a chamada "partida piloto" (espécie de teste de produção), que é exigida pela Anvisa, que precede a autorização. Estamos aguardando a Anvisa se manifestar sobre o pedido para a fase 3 dos testes. Se for necessário para a autorização definitiva, vamos fazer no Brasil.
Sobre o resultado da conversa com Leite, Marques preferiu ser sucinto:
– Foi muito boa a visita, mostra que o governador não esta parado, está correndo atrás para arrumar solução para o Rio Grande do Sul, para que a economia volte a fluir. Nós estamos interessados em ajudar. Ele nos disse que, assim que tiver a Sputnik disponível, tem interesse.
Conforme o presidente da União Química, o preço da vacina russa ainda está em análise. Deve ser ao redor de US$ 11 a dose, em um primeiro momento, com chance de cair, com o aumento da escala de produção.