O título vai entre aspas e com um pedido de desculpas à gigante Janet Yellen, que foi a primeira mulher a presidir o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e, agora, deve ser a primeira a ocupar a Secretaria do Tesouro, equivalente americano do Ministério da Economia, desde 1789.
Indicada ao Fed por Barack Obama, Yellen não teve seu mandato renovado por Donald Trump, o que não é comum nos EUA. Ele argumentou, em 2018, que com 1,6 metro, ela não era "alta o suficiente" para presidir a instituição.
Assim como Kamala Harris, a primeira mulher vice-presidente dos EUA, Yellen faz história. Quebra mais paradigmas em uma área em que as mulheres são minoria ainda mais notável. Mas acima de tudo, é tão respeitada e habilitada para o cargo que sequer foi anunciada oficialmente pelo presidente eleito, Joe Biden, nem passou pela necessária aprovação do Senado, e já recebe cumprimentos públicos.
Nascida no Brooklyn (Nova York), em uma família descendente de judeus poloneses, Yellen se formou em Economia em 1967 na Pembroke College (Brown University). Recebeu Ph.D. na Yale em 1971, orientada pelo Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que a considerou uma de suas alunas mais brilhantes.
Quem conhece Stiglitz já deduziu: Yellen não é ortodoxa, no sentido de defender o valor da moeda acima de tudo. É keynesiana, ou seja, defende que a política monetária deve ser usada para estabilizar a atividade econômica –inclusive com medidas de estímulo. A essa altura, até o Banco Central do Brasil se encaminha para essa direção.
No dia seguinte à sua indicação (ainda extra-oficial), o Dow Jones, indicador mais tradicional da bolsa de Nova York, atingiu 30 mil pontos pela primeira vez na história, no início da tarde desta terça-feira (24). Os motivos principais foram a tardia liberação de Trump para o avanço da transição de governo e o avanço das vacinas, mas se Yellen preocupasse, o recorde não seria quebrado.
O Washigton Post relata que seus pares a descrevem como uma espécie de Mary Poppins: firme mas gentil, muito inteligente e sempre preparada. Apesar da comparação machista, é uma descrição e tanto. Na dualidade mais característica entre os economistas americanos – falcão (hawk) ou pomba (dove), –, Yellen é considerada "dove", o que quer dizer que se preocupa mais com o desemprego do que com a inflação. É importante lembrar que esse tema, embora sempre polêmico, é muito menos nos EUA, onde nunca houve hiperinflação.
No período entre sua saída do Fed e sua volta como secretária do Tesouro, atuou no Brookings, think tank fundado em 1916 considerado o mais importante dos EUA pela publicação especializada Foreing Policy. O Brookings teve influência na montagem do Plano Marshall, mas também ajudou a montar estratégias de desregulamentação no país. Dependendo do ponto de vista de quem examine, é apontado de "centrista" a "liberal" (no sentido americano do termo, ou seja, identificado com boa parte do Partido Democrata).