O democrata Joe Biden, 77 anos, será o 46º presidente dos Estados Unidos. Ao lado dele, Kamala Harris (pronuncia-se Kâmala) será a vice-presidente — tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo no país.
Durante a campanha, Biden apostou na conquista de três grupos de eleitores: negros, mulheres e migrantes. Com um só nome, ele atingiu em cheio o ponto mais frágil da estratégia do adversário, Trump, visto por boa parte dos eleitores como machista, racista e contrário à migração.
Mais: contou com a própria característica de Kamala, uma política que costuma incendiar multidões com seu discurso, capaz de mobilizar eleitores a votar.
É importante lembrar que, nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório. Logo, antes de exercer seu direito na urna, o eleitor precisa se registrar para votar. A decisão de sair à rua no dia da eleição é muito subjetiva. Ou seja, mais do que se identificar com um político, o votante precisa estar mobilizado com um discurso ou uma causa. Kamala tem esse poder.
A senadora é filha de imigrantes da Jamaica e da Índia. Depois de dois mandatos como promotora de San Francisco (2004-2011), foi eleita duas vezes promotora da Califórnia (2011-2017), tornando-se a primeira mulher, mas também a primeira pessoa negra, a chefiar os serviços jurídicos do Estado mais populoso e rico do país.
Em seguida, em janeiro de 2017, foi empossada no Senado em Washington, tornando-se a primeira mulher com raízes no sul da Ásia a chegar à Câmara alta na história dos Estados Unidos, e a segunda mulher negra no Senado americano.
Harris cresceu em Oakland, na Califórnia progressista dos anos 1960, orgulhosa da luta pelos direitos civis de seus pais.
Ela conhece bem Biden e era próxima do filho dele, Beau Biden, que morreu de câncer em 2015. Essa proximidade, no entanto, não a deixou de fora de brigas. Foi bastante crítica ao pré-candidato no primeiro debate democrata, em 2019, questionando suas posições sobre políticas para acabar com a segregação racial na década de 1970.
Na ocasião, contou emocionada que, quando era menina, viajava em um dos ônibus que levavam estudantes negros a bairros brancos. Por algumas semanas, chegou a ser apontada como uma das favoritas para liderar a chapa, mas em seguida sua candidatura recuou.
Depois de abandonar as primárias, em dezembro, ela declarou apoio a Biden, em março de 2020.
O fato de ter sido promotora na Califórnia a coloca em vantagem em um tema também fundamental e palpitante desse ano eleitoral: a violência policial, outro assunto no qual Trump é questionado por não ter gerido bem a crise decorrente da morte de George Floyd por um policial branco, em Minneapolis.
Com relação ao Brasil, os democratas costumam ser mais protecionistas do que os republicanos (embora essa tradição tenha se perdido um pouco com Trump no poder). A dupla Biden-Harris vai obrigar o governo brasileiro a rever sua estratégia de política externa.
A dupla deve reintegrar os Estados Unidos no sistema multilateral, recolocando o país em agências da ONU de que Trump se retirou. Temas como meio ambiente estarão na agenda. Há um ano, Kamala, ainda como pré-candidata, tuitou: "Trump não deve buscar um acordo comercial com o Brasil até que Bolsonaro reverta sua política catastrófica e resolva os incêndios (na Amazônia)."