A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que começa nesta terça-feira (22) não tem o peso formal de solenidades presenciais anteriores, como já destacou o colega Rodrigo Lopes, mas mantém o interesse do planeta.
A abertura, como é tradição, cabe ao presidente do Brasil. A nova aparição de Jair Bolsonaro nos holofotes globais ocorre, outra vez, em meio à inquietação mundial com queimadas na Amazônia, e agora também no Pantanal.
Na véspera, o governo brasileiro tentou dar sinais de civilidade. Até o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que chegou a usar a Amazônia como uma espécie de refém para evitar cortes no orçamento, esboçou reação: criou a secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais que substitui a extinta Secretaria de Florestas e Desenvolvimento Sustentável.
Mas o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, disse ontem que as "nações estrangeiras" críticas ao desmatamento objetivam "prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro". É um péssimo argumento, um risco na véspera do pronunciamento acompanhado em alto volume no mundo.
A evidente falta de compromisso do governo Bolsonaro na preservação ambiental pôs em risco o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia, atrapalhou vendas de multinacionais com sede no país, constrangeu executivos brasileiros. O Brasil recebeu recados de nações estrangeiras – entre as quais, a Alemanha –, da Nasa, de fundos de investimento globais, de presidentes de empresas e de bancos brasileiros.
Pela lógica de Augusto Heleno, a grande agenda desse povo todo é "derrubar o governo". Não devem ter mais nada para se preocupar. Se na ONU Bolsonaro usar outra equivocada linha argumentativa, a de que os países ricos já queimaram suas florestas e agora querem preservar as brasileiras para disputar o mercado externo, vai adicionar desastre à tragédia.
Em primeiro lugar, a maioria das nações ricas foram hábeis em reflorestar o que, de fato, desmataram em outros tempos. Em segundo, cortaram e queimaram árvores antes que a ciência evidenciasse as consequências da atividade. Insistir na normalidade de cortar e queimar árvores no atacado, hoje, é quase como validar a Inquisição no século 21 (sei, alguns pensam assim, mas presumo que não vão ler este texto). Se repetir a estratégia mais simplista que conhece – o ataque é a melhor defesa –, Bolsonaro corre o risco de transformar em cinzas também a marca Brasil.