A expectativa era imensa, dentro e fora do Brasil. O país que sempre abriu a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), mais pelo currículo do que pelos feitos recentes, enfim se tornou foco das atenções globais. Pelos motivos errados, infelizmente.
As frases estiveram lá – "meu governo tem compromisso solene com a preservação do meio ambiente" e "o Brasil é um dos países que mais protegem o meio ambiente" – mas o país com a maior área de floresta tropical do planeta não saiu com imagem muito melhor do que antes do discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro.
Ao mencionar "mentiras" da mídia nacional e internacional, "colonialismo" de países que expressaram preocupação com as queimadas, Bolsonaro pouco contribuiu para amenizar a percepção de que algo mudou no Brasil e não foi para melhor. A perspectiva de um discurso mais conciliador se perdeu logo nas primeiras palavras, dedicadas a atacar Cuba e Venezuela. Por mais que haja motivo para críticas aos dois países, foi contraproducente abrir um discurso com ataques, no momento em que a desconfiança cerca o próprio Brasil.
Frases como "acabou o monopólio do senhor Raoni", em referência à liderança indígena mais reconhecida no Exterior, também não ajudaram. Ao lado da índia Yzani Kalapalo, Bolsonaro afirmou que parte das queimadas é resultado da cultura dos povos originais da Amazônia, sem atentar para o fato de que o volume das queimadas neste ano contrasta com o volume de população que permanece na floresta.
Os poucos sinais de conciliação vieram do reconhecimento da importância dos dois tratados firmados pelo Brasil nos últimos meses – ambos no âmbito do Mercosul, com União Europeia e os demais países do continente que não integram o bloco – "os maiores acordos comerciais da história do Brasil". Também acenou com o fim adicional da exigência de vistos para China e Índia – dois parceiros do Brics, outro bloco criado na época dos governos petistas – e um "ambicioso programa de reformas". Fez um convite ao mundo:
– Queremos que todos possam conhecer o Brasil, em especial a nossa Amazônia, com toda sua vastidão e beleza natural. Verão que não está devastada nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um pode comprovar, não deixem de conhecer o Brasil.
Mas até o tom do discurso não foi exatamente convidativo.
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