Depois de um intenso processo de desgaste da imagem do Brasil no Exterior, o presidente Jair Bolsonaro viaja nesta segunda-feira (23) para Nova York. No dia seguinte, enfrentará uma muralha de gelo virtual na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Chega precedido pela má impressão que deixou a ausência na cúpula do clima, iniciada na semana passada. Embora a justificativa fosse razoável – o presidente ainda se recupera de uma nova cirurgia abdominal –, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou ao jornal britânico Financial Times que o Brasil "não mostrou interesse" no encontro ambiental.
A viagem foi precedida de sinais do Planalto de que a agenda é consertar os danos à imagem do Brasil no Exterior, especialmente diante de potenciais investidores – estrangeiros são os principais candidatos para o plano de privatizações do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Um índio foi convidado a acompanhá-lo. É um ótimo indicador. Se os episódios anteriores decorreram de equívocos, abraçar a oportunidade de corrigi-los é a melhor postura possível, dada a vocação de enfrentamento estéril do presidente.
Mas a percepção sobre o Brasil, que sofrera desgaste, piorou desde o incidente internacional entre Brasil e o G7, especialmente a França. Bolsonaro estará na instituição que tem a ex-presidente chilena Michele Bachelet como alta-comissária para Direitos Humanos, com quem foi hostil ao se referir à morte de seu pai pela ditadura militar no Chile. Na semana passada, 230 fundos de investimento que administram recursos ao redor de R$ 65 trilhões pediram que o Brasil adotasse "medidas urgentes" para combater queimadas na Amazônia. Antes, empresas suspenderam compras de couro do Brasil, tanto a VF, dona de marcas como Vans, Timberland e The North Face, quanto a gigante de varejo H&M. Mais recentemente, um comitê do Parlamento da Áustria aprovou moção para rejeitar o acordo UE-Mercosul devido a preocupações com a Amazônia.
O tamanho do parágrafo acima mostra o volume das objeções ao Brasil que Bolsonaro terá de desfazer em um discurso que, prometeu, será breve e deve incluir defesa da soberania sobre a Amazônia e ataque à Venezuela de Nicolás Maduro. Terá de ser muito efetivo para reverter ao menos parte das reticências que se abriram em conversas internacionais sobre o Brasil. Ainda mais por levar na comitiva o filho que quer indicar para a Embaixada em Washington, prática identificada com países pouco confiáveis.
Atenção: em breve, você poderá acessar o site e o aplicativo GaúchaZH usando apenas seu e-mail cadastrado ou via Facebook. Não precisará mais usar o nome de usuário. Para saber mais, acesse gauchazh.com/acesso.