Certo, Emmanuel Macron exagerou ao convocar a discussão sobre as queimadas na Amazônia para a reunião de cúpula do G7, grupo dos sete países mais ricos do mundo.
O presidente francês reagiu a informações, no mínimo, imprecisas. Boa parte dos dados e das fotografias que circulam nas redes sociais sobre a situação atual da maior floresta tropical do planeta está equivocada. No entanto, ao reagir com descaso e deboche ao corte da ajuda de países como Alemanha e Noruega, o presidente Jair Bolsonaro abriu as portas para a pressão dos países desenvolvidos.
Quando a Alemanha bloqueou recursos para o Fundo Amazônia, Bolsonaro sugeriu que o país de Angela Merkel precisava de dinheiro para reflorestamento "mais do que aqui". Dados do Escritório de Estatística da União Europeia (Eurostat), mostraram que os alemães estão bem aquinhoados de verde. Sim, é reflorestamento, não mata nativa. E sim, um dos objetivos garantir o suprimento de madeira, mas o fato é que o país tem florestas e trata de conservá-las e aumentá-las.
O comportamento do presidente da República no tema preservação da Amazônia é um manual do que não fazer. Vejamos:
1. Espezinhou países amigos e parceiros comerciais importantes que ajudavam o Brasil a conservar uma floresta que é importante para o país e para o mundo.
2. Acusou pelos incêndios na floresta, sem provas, organizações não governamentais que, muitas vezes, substituem o Estado no atendimento da população que vive isolada na floresta.
3. Diante da oportunidade de refazer a estratégia, preferiu o confronto, afirmando que "ongueiros" eram os "maiores suspeitos" de fazer queimadas na Amazônia com o objetivo de o atingir.
Empresários reclamam, em conversas privadas, sobre a "instabilidade" do presidente, mas evitam fazer o mesmo em público, ponderando que querem contribuir para a garantir da estabilidade. Aos poucos, porém, vozes começam a se erguer para evitar que o Brasil se torne um pária na comunidade internacional.
Um dos maiores produtores rurais do mundo, Blairo Maggi, advertiu que a "confusão" provocada pela retórica presidencial poderia levar o agronegócio à "estaca zero", depois dos esforços para associar produtos brasileiros ao cuidado ambiental. Na quarta-feira, o consultor Cláudio Frischtak, respeitado por investidores externos e nacionais, que se declara "100% favorável à privatização", reclamou que o presidente e os ministros do Meio Ambiente e das Relações Exteriores não preservam a imagem do Brasil. Na noite de quarta-feira, Pedro Moreira Salles, que comanda o Itaú, um dos maiores grupos financeiros do país, afirmou que "um país que dê as costas para a razão e o conhecimento está condenado a ser pobre, doente e inseguro".
No início do mandato, o presidente Bolsonaro deu declarações que, mais tarde, preferiu rever ou esclarecer porque foi convencido de que estavam mal colocadas. Agora, depois de ter afastado alguns de seus conselheiros prudentes, tem reclamado que a imprensa chama de "recuos" essas admissões de equívocos e não quer repeti-las. É hora de recuar. Antes que as queimadas na floresta incendeiem o que resta do prestígio do Brasil nos fóruns internacionais. O custo será alto.