Com sete meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro começa a colher as tempestades decorrentes dos ventos que semeia com suas declarações desastradas sobre o desmatamento da Amazônia e as ações referendadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A demissão barulhenta do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, por divulgar dados negativos sobre o desmatamento, materializou o desprezo pelos dados e pela ciência.
Primeiro foi a Alemanha, que na semana passada congelou uma contribuição de R$ 155 milhões para projetos de proteção florestal. Bolsonaro fez pouco caso e sugeriu que a primeira-ministra Angela Merkel use o dinheiro para reflorestar a Alemanha. Nesta quinta-feira (15), a Noruega anunciou a suspensão dos repasses de R$ 133 milhões para o Fundo Amazônia.
O valor que os dois países deixarão de repassar é o menor dos problemas. A grande preocupação passa a ser os prejuízos que declarações destrambelhadas e ações irresponsáveis na área ambiental podem trazer ao Brasil no comércio internacional.
Essa preocupação foi expressa sem meias palavras pelo ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, um dos maiores produtores de grãos do Brasil, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Blairo não é comunista nem xiita do ambientalismo, como os bolsonaristas carimbam quem discorda de suas teorias conspiratórias sobre o interesse oculto dos europeus na defesa da floresta.
Blairo disse que o discurso “agressivo” do governo Bolsonaro na área ambiental tem combustível suficiente para cancelar o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia. E advertiu que se a confusão retórica do presidente e de seus ministros não for contida, levará o agronegócio brasileiro à “estaca zero”, após anos de esforço para imprimir o ambiente como marca dos alimentos vendidos no mercado externo.
Outra ameaça nascida das declarações do presidente paira sobre as exportações brasileiras: a declaração de guerra à chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner, hoje favorita para vencer as eleições na Argentina.