Iniciada em novembro, a série TBT 2024 revisita coberturas marcantes de jornalistas de Zero Hora e Rádio Gaúcha neste ano. Repórteres e comunicadores relembram momentos da tragédia climática no Estado, grandes operações policiais e acontecimentos que chocaram o Rio Grande do Sul e o país. Na quinta publicação, o colunista Leonardo Oliveira conta detalhes de como foi cobrir, em fevereiro, o julgamento e a condenação por estupro do jogador de futebol Daniel Alves, na Espanha.
Natural da Bahia, Daniel Alves chegou a ser considerado o jogador com mais títulos da história do futebol e passou por clubes como Barcelona, Juventus e Paris Saint-Germain. No início de 2023, estava jogando pelo Pumas, quando teve seu contrato rompido após o processo de agressão sexual vir à tona.
— Em 2016, cinco jovens que tinham um grupo de WhatsApp chamado "La Manada" estupraram uma jovem na entrada de um prédio. A partir daí, surge o movimento do "Solo Sí es Sí" e isso acaba virando uma lei. O caso Daniel Alves foi o primeiro de grande repercussão dessa nova lei — explica Leonardo Oliveira.
O episódio teve o primeiro destaque na imprensa espanhola no final de 2022, quando o diário catalão ABC revelou que o jogador teria violentado sexualmente uma mulher na casa noturna Sutton, em Barcelona, no dia 30 de dezembro. Na ocasião, a equipe de segurança da boate acionou a polícia, que colheu o depoimento da vítima.
No decorrer do primeiro mês, a justiça espanhola entendeu que as diferentes versões apresentadas à Justiça por Daniel Alves eram inconsistentes — e, por isso, foi decretada a prisão do brasileiro em 20 de janeiro de 2023. A partir daí, o atleta permaneceu preso por um ano e dois meses. Em 22 de fevereiro de 2024, foi julgado e condenado a cumprir quatro anos e seis meses de prisão.
Para o contexto dos espanhóis, eles consideraram que um jogador do Barcelona, famoso e milionário, ter ficado preso, ter ido a julgamento e ter sido condenado já foi uma grande vitória.
LEONARDO OLIVEIRA
Jornalista esportivo
— Os espanhóis consideraram a pena uma vitória, embora eu tenha achado branda. Porque o Daniel Alves, pela pena que recebeu, teve direito a pedir a liberdade vigiada. Hoje ele está livre, não pode sair da Espanha, teve que entregar os passaportes, mas ele é uma pessoa livre. Frequenta restaurantes, mora em uma região nobre de Barcelona — comenta Oliveira. — Para o contexto dos espanhóis, eles consideraram que um jogador do Barcelona, famoso e milionário, ter ficado preso, ter ido a julgamento e ter sido condenado já foi uma grande vitória.
A cobertura
Entre os dias 5 e 7 de fevereiro, a Rádio Gaúcha e o jornal Zero Hora deram ampla cobertura ao julgamento de Daniel. No total, 19 testemunhas foram ouvidas, entre policiais, funcionários da boate, a vítima e pessoas próximas aos envolvidos.
O jornalista esportivo Leonardo Oliveira foi, em outubro de 2023, passar uma temporada em Barcelona para fazer um curso e, por isso, acompanhou todo o caso.
— Eu sabia que estando lá, eu tinha essa pauta do Daniel muito presente para mim. Foram dias longos, foram jornadas longas de trabalho — comenta o colunista. — Me lembro que teve dias em que entrei no Macedo (apresentador do programa Gaúcha Hoje, que vai ao ar no início do dia) e entrei com a Viviana Fronza, às 23h30min. Então, eu estava das 6h30min às 23h30min. Mas foi tão fascinante cobrir esse julgamento, foi tão jornalístico, que essa questão de horário ela passa ao largo.
Durante os três dias, a imprensa dos principais veículos de comunicação do mundo esteve voltada ao caso, levantando fortes debates fortes sobre futebol, violência de gênero e as relações na sociedade.
— Eu acho que manda um recado muito claro para o mundo do futebol, que é conservador, que é machista — afirma Oliveira. — E aí eu vou generalizar, claro que tem exceções, muitas, mas o futebol tem uma ideia de que ele vive sob leis próprias. E a lei do astro do futebol é a mesma lei do cidadão comum.
Em entrevista para GZH, Leonardo contou ainda que a questão da imparcialidade sempre foi uma preocupação para ele.
— Por mais que eu tivesse partido nesse julgamento, por mais que eu tenha as minhas posições e as minhas convicções, e elas eram de que o que o Daniel fez foi abominável, eu tinha também que ter um cuidado — confidencia o jornalista. — Então foi muito difícil nesse ponto, de manter um equilíbrio, uma imparcialidade, de ser apenas o portador das informações. Quem tinha que fazer o julgamento eram os juízes.
Produção: Laura Pontin
Supervisão: Gabriel Salazar