Com a cautela originada na crítica que faz aos estímulos à economia nos governos petistas, Samuel Pessôa, chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), admite que é hora de fazer algo para tirar o país da estagnação e da ameaça real de volta à recessão. Entre as medidas possíveis, cita o aumento do investimento público no programa Minha Casa Minha Vida, e na manutenção de estradas e vias públicas. Mas lembra que o essencial é retomar a taxa de investimento, que depende de um horizonte futuro de planejamento que, na sua avaliação, pode ser difícil de construir. Depois do texto publicado na semana passada na Carta de Conjuntura, que causou polêmica entre seus colegas, Pessôa aceitou detalhar sua visão à coluna – depois de certa insistência.
Queda lenta no desemprego
"A situação está difícil. No entanto, enxergo leve melhora à frente com a aprovação da reforma da Previdência. Talvez seja possível colocar a economia para crescer a 2% ao ano por certo período. Isso é suficiente apenas para fazer a taxa de desemprego cair muito lentamente. Algo como 0,35 ponto percentual ao ano. Neste sentido, estimo que o desemprego cairá dos 12% de hoje para cerca de 9%, que parece ser nossa taxa natural, em uns oito ou nove anos."
A origem do cálculo
"O motivo é o seguinte: a população trabalhadora cresce 0,8% ao ano. A produtividade do trabalho, nos últimos 35 anos, cresceu 0,5% ao ano. Somando os dois movimentos, o crescimento potencial do PIB hoje está por volta de 1,3% ao ano. Se crescermos a 2% ao ano, ao longo de certo período cresceremos 0,7 ponto percentual a mais do que o potencial. Tem uma regra de bolso, a lei de Okun, que estabelece relação de um para meio entre crescimento e redução do desemprego. Isso quer dizer que cada 2 pontos percentuais de crescimento além do potencial reduzem o volume de desocupação em um ponto percentual. Se crescermos 0,7 ponto além do potencial, o desemprego cairá cerca de 0,35 ponto percentual por ano. Esta é a aritmética."
Como acelerar
"Algum investimento público – nos termos cuidadosos sugeridos na Carta do Ibre e sempre depois da aprovação da reforma da Previdência – pode ajudar um pouco. Alguma queda da taxa Selic (juro básico do Banco Central) também. Mas, de fato, o problema de fundo – nossa baixíssima taxa de crescimento da produtividade – nos coloca em uma difícil situação. O problema é que é muito difícil acelerar o crescimento sem que o investimento cresça. O investimento, por sua vez, depende de haver um horizonte futuro de planejamento. Não temos isto hoje no Brasil. Não sei se conseguiremos construir."
Investimento público
"A Carta do Ibre e eu defendemos alguma elevação do investimento público para tentar reativar o setor de construção civil. Mas, além das limitações orçamentárias, há inúmeras limitações regulatórias e de gestão que dificultam a capacidade do Estado em elevar o investimento. Ou seja, temos a redução do juro, alguma possibilidade de elevar o investimento público no programa Minha Casa Minha Vida e na manutenção de estradas
e vias públicas em geral e, finalmente um programa de concessões de infraestrutura e privatização. Estes dois últimos itens levam mais tempo. Adicionalmente, há longa agenda regulatória para que as concessões deslanchem. Ou seja, além dos problemas macroeconômicos, há grandes limitações microeconômicas para voltar a crescer."