Uma publicação que costuma ficar restrita ao universo dos economistas virou tema polêmico nas redes sociais. A Carta de Conjuntura da Fundação Getulio Vargas (FGV), tradicional instituição de ensino e pesquisa sobre economia, de quinta-feira (4) traz um estudo de Samuel Pessôa, defensor do ajuste fiscal, admitindo que a economia brasileira precisa de algum tipo de incentivo. As afirmação são cautelosas:
"Um impulso fiscal é inevitável, melhor que seja moderado e bem direcionado".
"Como a taxa de juros real de longo prazo vem caindo velozmente na economia nacional (está por volta de 3,5%), mesmo com um PIB crescendo muito lentamente, que já se está em um terreno no qual é (no mínimo) razoável nutrir a dúvida sobre se um aumento de gasto no atual contexto vai de fato piorar a relação dívida/PIB."
O tema é polêmico especialmente porque uma corrente rejeita esse tipo de medida, que costuma ser adotada quando as crises são muito profundas, como a que o Brasil atravessa. Um dos argumentos mais fortes é o resultado das políticas de estímulo adotadas nos governos petistas, especialmente no segundo mandato de Lula e nos cinco anos e meio de Dilma. Na tentativa de impedir que a crise de 2008 provocasse recessão no Brasil, com consequente prejuízo eleitoral, foram adotadas iniciativas que tiveram alto custo fiscal, como empréstimos baratos para compra de máquinas agrícolas, caminhões e ônibus, além de financiamento concentrado na chamada política dos "campeões nacionais".
Pessôa, crítico dessa estratégia, faz várias ressalvas no texto, mas avalia que "não é impossível que o Brasil esteja próximo das condições em que o estímulo fiscal possa até contribuir para melhorar a relação dívida/PIB". Todos se surpreenderam. A coluna quis saber mais, e Pessôa apontou onde deveria estar o estímulo: em algum setor que tenha impactos fortes sobre emprego, como a construção civil. Mais ainda, afirmou que "há caminhos" para fugir da estagnação:
– Aprova (a reforma da) Previdência, depois o Banco Central baixa o juro, e aumentamos um pouco o investimento público. Principalmente, continuamos com a agenda de reformas.