Mezzo falência da articulação do governo, mezzo derretimento da lira turca, que se espalha para moedas de vários mercados emergentes é a receita do dia que chega à metade com o dólar cotado a R$ 3,95, alta de 2,2%, e bolsa em queda de 2,51%, para 92.900 pontos. O principal motivo é a aprovação de novas amarras no orçamento federal na noite de terça-feira (26) na Câmara dos Deputados. O fato de o Ibovespa ter descido ao patamar de 92 mil pontos nove dias depois de ter atingido pela primeira vez na história a marca de 100 mil pontos é especialmente inquietante.
Mas o mau humor do mercado também tem ingredientes importados: além da desaceleração das economias maduras, a Turquia comprou uma briga com grandes instituições financeiras, acusando-as de manipular a moeda nacional, a lira turca. O resultado foi a disparada ao redor de 20%, em poucos dias, no risco país medido pelos Credit Default Swaps (CDS) . Toda vez que um país emergente entra em crise, contagia os demais. O risco Brasil medido pelos CDS também sobe cerca de 3%, para 174 pontos, mas ainda está longe dos picos históricos.
Analistas veem o que menos queriam: o acirramento da crise entre o governo Bolsonaro e a Câmara dos Deputados, provocado por falta de articulação política e bom senso prático. A preocupação com o futuro da reforma da Previdência se acentua desde a prisão do ex-presidente Michel Temer. Foi agravada pelo conflito com presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e desembocou na primeira consequência efetiva, para além do bate-boca.
Analistas já apontavam "quadro é de total desarticulação política". Como o cenário externo também não tem sido favorável, e o governo não dá mostras reais de tentar resolver o impasse, a percepção se agrava. Na quarta-feira (26), quando o presidente Jair Bolsonaro foi ao cinema pela manhã, na data marcada para a audiência com o ministro da Economia, Paulo Guedes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o mercado financeiro reagiu mal quando Guedes desistiu do compromisso, mas encerrou o dia animado com a perspectiva de reação do Planalto.