Paulo Cesar Santos precisou contornar uma espécie de convulsão interna no ambiente do Centenário. Primeiro, veio a entrevista do técnico Rafael Lacerda, tornando pública a sua saída ao final do Gauchão, algo que já estava costurado internamente, na véspera do jogo decisivo com o Pelotas. Em seguida, veio a saída do diretor de futebol, Júnior Guerra, que teria divergido dessa decisão do técnico de tornar pública sua saída.
Os dias passaram e, conforme Santos, a calmaria foi retomada, e o foco concentrado na semifinal com o Grêmio e na montagem para a Série D. Por telefone, o presidente conversou com a coluna. Confira.
Como chega o Caxias para esta semifinal?
Primeiro, é um momento extremamente importante, uma sequência de dois anos de trabalho chegando à final em um ano e à semifinal no outro. Sabemos de todas as dificuldades que a pandemia trouxe, mas sempre acreditamos no trabalho dos profissionais ligados ao clube, nas pessoas. Os jogadores que vieram foi porque quiseram vestir a camisa do Caxias. Fazem de tudo para honrá-la. Agora, tivemos a saída de um deles que estava desde 2018 conosco (Diniz) e foi uma emoção geral. O ambiente de vestiário é muito bom, não tivemos problemas desde o ano passado.
Como repercute no vestiário essa mudança prevista na comissão técnica ao final do Gauchão?
A condução do Lacerda sempre foi muito clara. Claro que enfrentamos muita com dificuldade no Gauchão, que virou quase um torneio com essa fórmula. Dois ou três sem resultados positivos te colocariam na zona do rebaixamento. Isso é difícil de administrar. Mas chegamos novamente à semifinal, o que leva o clube a uma vitrina nacional e contra um gigante do futebol internacional, como o Grêmio. Se for ver, são três equipes da Série A e o Caxias, que luta para sair do Série D.
Mas o anúncio feito antes de uma decisão acabou pegando todos de surpresa?
Temos muita transparência, trabalhamos muito juntos, já que acumulo também o cargo de vice de futebol. A mudança era um assunto que já tínhamos debatido (com o Lacerda). Inclusive, no dia anterior, tínhamos conversado. Mas houve alguns fatos isolados no clube, que também já foram solucionados, e veio o pronunciamento do treinador, que respeitamos. Mas temos de preservar a instituição, não tomaremos decisões que a prejudique. O Caxias está acima de tudo. O foco agora, do Lacerda e do grupo, é o Grêmio, um gigante. Temos de criar dificuldades no enfrentamento, como fizemos em 2000.
Na sequência, houve a saída do seu diretor de futebol. Como evitar que isso interfira no vestiário?
Estou, neste momento, como o vice de futebol. Desde 2000, na verdade, trabalho junto ao departamento. A saída do Júnior Guerra, entendemos como superada no clube. Foram dois meses de colaboração dele. Houve algumas divergência, entendemos de comum acordo, o que o melhor seria seu afastamento. Repito, já é caso superado. Temos duas frentes de trabalho bem claras: o Grêmio e a montagem da equipe para a Série D, já pensando no novo técnico.
O senhor já tem um nome definido?
Estamos conversando com alguns treinadores. Inúmeros querem trabalhar aqui, trata-se de uma camisa pesada, um grande clube, que deve ter seu crescimento no cenário nacional. Tivemos a procura de mais de 30 técnicos querendo comandar o Caxias. Vamos avaliar o melhor nome dentro da nossa condição financeira.
O senhor está desde o ano 2000, o do título gaúcho, direto no futebol do clube?
Sim. Digo que não é por vaidade, vamos deixar claro. Ou para centralizar decisões. Não é assim que trabalhamos. Temos um grupo gestor, decidimos em comum acordo. Acabamos tendo essa saída do Júnior Guerra, e voltei a atuar até a vinda de um novo diretor, se o Conselho Gestor assim avaliar. Temos eleições em novembro e, é importante lembrar que, apesar das dificuldades, chegamos à semifinal pelo segundo ano seguido e deixaremos calendário para 2022, com a vaga na Série D e a Copa do Brasil 99% garantida. Ou seja, há perspectiva de recursos.
Para o Gauchão, a ideia foi manter a base de 2020. Isso será seguido para a Série D?
Há contratos que se encerram ao final do Gauchão. Caso avancemos à final, também teremos valorização de jogadores e procura por eles. Temos de ir montando o grupo para a Série D. Nos próximos dias, definiremos a comissão técnica. A ideia é manter boa parte do grupo, que é diferenciado.
O senhor já perdeu o Ivan, um jogador importante.
Tomamos o cuidado de fazer renovação de contrato dos atletas com multa rescisória. Olhamos o futebol como fonte de receita. O Ivan, ao sair para o Goiás, rendeu dinheiro ao caixa.
O Gauchão é importante, mas o grande objetivo é mesmo a Série C, que mudaria a vida do clube, não?
É uma união de esforços muito grande. Não é só a competição, temos uma disputa de 12 meses, que é a busca de receita, que é atender ao Profut. Não entendo como não foi cancelada a exigência de seguir em dia, diante desse cenário de pandemia. Imagina, agora, com o jogo da semifinal, teríamos uma receita que daria equilíbrio financeiro com o jogo de ida. Por isso temos de agradecer ao sócio. No ano passado, no projeto Honradores da História, arrecadamos com eles mais de R$ 500 mil. Neste ano, ele participa com compra de ingressos virtuais. Os patrocinadores se mantiveram fiéis. Daí que saem nossas receitas.
Quanto o Caxias paga mensalmente ao Profut?
Pagamos R$ 100 mil de mensalidade, que é o quase o valor que arrecadamos com o quadro social. É um esforço descomunal que fazemos. Muitas vezes, ele é interno, com diretores aportando valores para manter essa situação em dia. Nosso estádio está como garantia, assim como nossas finanças.
Sobre o confronto da semifinal, é possível encarar esse Grêmio?
Dá para se superar. Temos de acreditar na decisão dos nossos profissionais, na estratégia do nosso treinador para nos levar até a final do Gauchão. Fizemos uma grande decisão em 2020. Vamos fazer de um tudo contra o Grêmio.
O senhor acredita que o fato de o Grêmio ter jogado na quinta-feira em Lanús é uma vantagem?
Para uma equipe do tamanho do Grêmio, com os profissionais que tem, dá pouca diferença. Alguns profissionais que o Grêmio tem, um mês de salário deles, paga a folha semestral do Caxias. Mas a gente acredita, tem de ser na superação, na entrega, na dedicação. Mostramos que podemos ganhar. Em 2020, foram duas vitórias em três jogos.
É possível resgatar esse futebol de 2020?
Agora, na semifinal, é outro campeonato, outro clima. Podemos fazer um grande espetáculo no Centenário e chegar muito vivos para o confronto na Arena. Respeitamos o Grêmio, mas temos de nos impor. O ambiente não poderia estar melhor no vestiário.