Quando vi de perto o mar pastoso de lama que arrasou Brumadinho (MG), naquele janeiro de 2019, hoje tão distante, respirei fundo. Ali, ao lado do repórter fotográfico André Ávila, compreendi o tamanho da tragédia que tinha diante de mim. Agora, revivo o sentimento de incredulidade, provocado, não pelo lodo de uma barragem rompida, mas pela água cobrindo cidades na minha terra. Na nossa terra.
São eventos diferentes, é claro, mas é impossível não fazer comparações. Em Minas Gerais, 270 pessoas perderam a vida soterradas. O barro cobriu, em minutos, uma localidade inteira chamada Córrego Feijão. Era um lugar bonito, verde, turístico. Virou uma massa marrom e disforme. Submergiu.
Aqui, já há pelo menos cem mortos confirmados e mais de uma centena de desaparecidos, em uma área geográfica maior: são 417 municípios afetados, com mais de 160 mil desalojados. A água de nossos rios transbordou e levou tudo o que encontrou pela frente. Submergimos.
A sensação de impotência é a mesma. Só quem passou por algo desse tipo sabe. Não é à toa que, ao saber do que se sucedia no Rio Grande do Sul, a Associação Amigos de Brumadinho decidiu agir, lançando uma campanha de solidariedade — inclusive com a arrecadação de recursos para ajudar os gaúchos.
De certa forma, nos tornamos irmãos no sofrimento. Eles sabem o que estamos passando e nós nos reconhecemos neles.
Há dias, bombeiros mineiros especializados em resgates de alto risco atuam no Estado, ajudando como podem. O auxílio também chega na forma de água, roupas e alimentos vindos de Brumadinho.
Durante cinco anos, graças a donativos de todo o país (inclusive do Rio Grande do Sul) a associação pôde atender mais de 8 mil famílias impactadas pela negligência ambiental. Hoje, a entidade retribui a solidariedade na mesma moeda. A nós, gaúchos e gaúchas, só resta agradecer. Obrigada, Brumadinho. Não esqueceremos.