Mais de 300 milímetros de água despencaram sobre o Rio Grande do Sul em apenas 24 horas, o triplo do volume de chuva previsto no mês. Rodovias e pontes cederam com as enxurradas. Vidas foram perdidas. Comunidades ficaram ilhadas, muitas delas na região onde nasci, o Vale do Rio Pardo.
Durante todo o dia, ontem, recebi fotos e vídeos de amigos e parentes assustados com a violência da natureza. O que era um riacho perto da casa dos meus pais, em Santa Cruz do Sul, se transformou em um rio barrento e nervoso. No interior, conhecidos ficaram presos, sem ter como se deslocar, porque a água levou a estrada. Não é força de expressão.
E o pior, infelizmente, ainda está por vir, segundo os meteorologistas — que, dessa vez, acertaram em cheio as previsões. Quem dera, eles tivessem errado. Quem dera...
Não bastasse toda a desgraça em curso, ainda tem gente fazendo troça da emergência climática. Ou politizando um assunto que deveria passar longe das discussões ideológicas rasas, que morrem em si mesmas.
O colapso do planeta não é de direita nem de esquerda. Estamos testemunhando, mais uma vez, o inferno (ou dilúvio) que nós mesmos criamos, ao apostar no progresso a qualquer custo. A história ambiental mostra, com fartos exemplos, como chegamos até aqui, e a ciência — que também é resistência — já indicou o caminho para evitar o ponto de não retorno.
Quando vamos acordar?