Em meio ao zunido de helicópteros riscando o céu e ao barulho de buzinas nas ruas nervosas de Porto Alegre, fechei a porta de casa às 15h27min desta segunda-feira (6), levando algumas roupas e o equipamento de trabalho. Juntei-me à multidão de refugiados climáticos do Rio Grande do Sul.
No início da tarde, a prefeitura orientou moradores dos bairros Menino Deus, onde vivo, e Cidade Baixa, regiões centrais e populosas da cidade, a saírem imediatamente das suas residências.
Motivo: risco de alagamento. Uma casa de bombas próxima à Rótula das Cuias foi desligada, o que poderia levar a água do Guaíba a subir rapidamente pelas ruas. "Busquem local seguro nas casas de familiares ou nossos abrigos temporários", dizia o aviso.
Minutos antes, eu já havia deixado a redação integrada de GZH às pressas, ao lado dos colegas. Recolhemos os computadores e saímos desejando "boa sorte" e "se cuida" um ao outro, meio incrédulos, meio assustados, enquanto a Rádio Gaúcha seguia no ar, ao vivo, levando informações para todo o Estado.
Lembrei de pegar duas garrafinhas de água e fui caminhando até a minha casa, para arrumar as coisas. Vi uma cidade congestionada, tensa e amedrontada. Motoristas xingando uns aos outros, buzinaço, falta de empatia. Difícil.
Vi a água barrenta brotando de bueiros e, aos poucos, inundando as ruas da vizinhança. "Espero que não ocorram saques", pensei, lembrando dos casos deploráveis que estamos vendo em regiões evacuadas. A tragédia não é só climática.
Deixei meu bairro em segurança, de forma preventiva, seguindo as orientações. Escrevo, neste momento, da casa de uma amiga querida, que abriga outra amiga refugiada e que se dispôs a enfrentar o trânsito para me dar uma carona.
Tenho conforto, luz, água e comida, ao menos por enquanto. Sim, sou uma privilegiada. Muita gente, infelizmente, não teve e não terá a mesma sorte.