Pega mal reabrir o bar ou o restaurante em meio a tanta desgraça? Frequentar esses locais, neste momento delicado, é “errado”? E ir ao ao cabeleireiro ou à academia? Será que é hora de retomar as atividades, mesmo sabendo que há milhares de pessoas em abrigos e gente que perdeu tudo no Rio Grande do Sul?
Corro o risco de ser mal interpretada, mas lá vai: com cuidado e responsabilidade, não há motivo para se envergonhar de nada, e isso não significa passar a borracha na crise, menosprezar o sofrimento alheio ou desviar os olhos das mudanças climáticas.
Sei que a opinião pode soar insensível e ser taxada de “elitista”. Afinal, faço parte da parcela privilegiada da população que não teve perdas. Fui obrigada a sair de casa, em Porto Alegre, porque moro em área de risco de enchente (coisa que nunca imaginei), mas tive sorte: meu prédio não foi atingido, tenho emprego e renda.
Vi, ouvi e li relatos de pessoas — muitas delas envolvidas em ações voluntárias e em mutirões por doações — se sentindo “culpadas” ou desconfortáveis por poder (e querer) sair para jantar e ouvir música com os amigos. Ou por fazer tudo o que mencionei no início do texto. Em uma sociedade onde todos são julgados o tempo inteiro, não é de se surpreender.
É evidente que não há margem para excessos e ostentação. Também não cabe manter hábitos de consumo inconsequentes, aqueles que ignoram impactos ambientais e sociais e que, de certa forma, contribuíram para a catástrofe.
Quer comprar roupa nova? Compre, mas, se puder, priorize fábricas locais comprometidas com o planeta. Quer sair para jantar? Opte por lugares que utilizam insumos de produtores daqui, preocupados com a terra.
Precisamos mudar e acho que já entendemos isso, da pior maneira possível. Significa parar tudo? Não. Se isso ocorrer, a reconstrução do Estado será ainda mais difícil, demorada e penosa. Apoie, incentive e prestigie pessoas e empresas em quem você acredita. Essa também é uma forma de ajudar.