O futuro da “mais porto-alegrense” das áreas verdes da Capital - o Parque Redenção - está no centro de uma briga renhida, que hoje terá mais um round: a segunda parte da audiência pública da prefeitura para discutir a concessão do espaço, em 2023, por 30 anos.
Na última sexta-feira, foram tantas as inscrições para falar, que a sessão teve de ser desdobrada. No domingo, cerca de 3 mil frequentadores se manifestaram contra o projeto, em um abraço simbólico ao local, endossados por um abaixo-assinado com mais de 23 mil nomes. A maioria dos membros da associação de amigos e do conselho de usuários, segundo o prefeito do parque, Roberto Jakubaszko, também é contrária ao tema. Não é pouco.
O berço do brique desperta paixões. Tombado em 1997 como patrimônio cultural, urbano e ambiental de Porto Alegre, o local é a cara da cidade e do jeito de ser porto-alegrense. Como já escreveu meu amigo PG, é diferente do Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia, que só atraía multidões na Semana Farroupilha - tanto que, ali, não houve resistências à concessão, pelo contrário.
É certo que a Redenção precisa, sim, de mais segurança, cuidados e investimentos. A questão é como. À frente do projeto, a secretária de Parcerias Estratégicas, Ana Pellini, tem dito que a mudança garantirá avanços. Não duvido, mas será mesmo que precisamos de um estacionamento subterrâneo na área? Ainda mais quando todos os grandes centros urbanos do mundo repelem o tráfego de veículos de suas zonas centrais? Não creio.
Faço parte da turma que vê benefícios em concessões certeiras e bem executadas. É o caso da Orla, exemplo perfeito. Ali, como no Parque Harmonia, havia uma área subutilizada e com enorme o potencial latente. Penso o mesmo sobre a polêmica do Cais do Porto.
Não é o caso da Redenção, que não está abandonada. A Redenção fervilha. Tem vida própria e características únicas, por isso a discussão é tão complexa. Às vezes, dar um passo atrás é sinal de sabedoria.
Alternativas
A primeira audiência sobre o futuro da Redenção foi marcada por vaias e ataques à prefeitura. Não é por aí. Tem de haver diálogo construtivo. Há quem defenda que o parque deve permanecer público e fim. Mas, como dinheiro não dá em árvore, é válido propor alternativas para viabilizar melhorias estruturais. Por que não apostar em concessões ou parcerias pontuais? O posto de combustíveis abandonado em um dos extremos do parque daria um belo quiosque e seria um bom começo.
Ibirapuera
Em São Paulo, o Ibirapuera foi concedido em 2019 e, desde de 2020, é administrado por uma empresa privada. Quem circulou por lá antes e voltou depois da concessão, percebe as mudanças: houve melhorias em termos de limpeza e conservação. Mas algumas alterações vêm causando polêmica na cidade. A mais recente delas é a decisão da concessionária de cobrar taxa de professores que treinam atletas ou ministram aulas de yoga no local.