
O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Com clima tenso no plenário da Câmara Municipal, o vereador Rafael Fleck (MDB) denunciou ter sido coagido por um assessor parlamentar, que estaria no cargo por indicação do também vereador Gilvani Gringo (Republicanos). Em manifestação na sessão desta segunda-feira (12), Fleck relatou que o caso ocorreu em 8 de maio durante uma agenda na Zona Norte.
Segundo o emedebista, o assessor o "abordou e importunou", informando ser ex-policial militar. Este ocupante de cargo de confiança estaria acompanhado de brigadianos, que não falaram com Fleck, mas que fariam a segurança do vereador Gringo.
— Ele me perguntou "tu pretendes cassar o mandato do Gringo?", e eu respondi: "Se tiver motivação, sim". Ele remendou: "Tu sabe que policiais de folga do 20º Batalhão realizam a segurança do Gringo, com fuzil no veículo, e não vamos deixar ninguém derrubar ele?". Quero dizer que o que derruba nessa Casa não é tiro de fuzil, é voto de vereador. Duas perguntas que ficam: andam com fuzis do Estado fazendo segurança? Pra que um esquema de segurança tão forte assim? — questionou Fleck na tribuna, ao denunciar a coação.
O vereador do MDB relatou que, na ocasião, ainda foi perseguido pelo assessor, que seguiu reafirmando as ameaças — inclusive durante uma ida ao banheiro.
— Não vou me intimidar com ameaças de quem quer que seja. Não vou me dobrar a ameaças e, sim, as denunciarei, porque é inadmissível que o debate interno dessa Casa seja rebaixado a esse ponto e parlamentares tenham que se submeter a esse tipo de constrangimento — completou Fleck, que confirmou ter feito boletim de ocorrência do caso.
O vereador Rafael Fleck integra a Comissão de Ética do Legislativo porto-alegrense, e afirma que há dois processos de cassação protocolados contra Gringo, por quebra de decoro parlamentar: um Sindicato Médico do RS (Simers), que denuncia a coação de médicos dentro de uma UPA por parte do parlamentar do Republicanos.
O outro, já em fase de receber parecer da comissão, sob análise do vereador Aldacir Oliboni (PT), é referente a um episódio em que Gringo teria desrespeitado profissionais de uma casa de bombas com falas discriminatórias e e exigido o religamento dos equipamentos, mesmo com alertas técnicos sobre riscos na operação. A denúncia é da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa).
Contraponto e animosidade
Mais tarde na mesma sessão, Gringo foi à tribuna para responder ao vereador Fleck. Extremamente exaltado, o vereador do Republicanos reforçou sua atuação nas denúncias pelos problemas de Porto Alegre e chamou a denúncia de Rafael Fleck de "narrativa".
— Eu não caio em narrativa, meu amigo. Eu não preciso dizer nada pra ninguém, aqui tem trabalho, aqui tem luta. Eu não preciso fazer nada pra ninguém, tenho 33 anos em Porto Alegre. Se é pra levantar narrativa pra me matar como um covarde, eu falo pra Zero Hora, Record, Polícia Federal, Polícia Civil, que se manifestem junto e vamos começar a discussão. Aí tu vai ver como se lida. Aqui não é guri, meu galo. Eu sou firmeza e boto pra frente. Não tenho medo de botar a cara, aqui eu não sou um qualquer. Eu quero a ocorrência, vou levantar as câmeras, tudo.
O atrito entre os dois é forte há cerca de um mês. Em pelo menos duas reuniões no início de abril entre membros da base do governo municipal no Legislativo, da qual tanto Fleck quanto Gringo fazem parte, os dois tiveram desentendimentos e discussões. Em um dos encontros, Fleck chegou a dizer que atuaria em favor da cassação de Gringo, o que estremeceu a relação.