Do arco ao espelho d’água, um círculo com cerca de 3 mil pessoas abraçou o Parque da Redenção na tarde deste domingo (20). O ato, promovido pelo coletivo Preserva Redenção, foi um protesto contra o projeto de concessão de espaços públicos de Porto Alegre à iniciativa privada apresentado pela prefeitura em outubro.
A movimentação promovida pelo ensaio do Bloco da Laje durante a manhã do domingo se somou ao Abraço em Defesa da Redenção Pública, por volta de 13h. O coletivo tem apoio de 80 entidades e grupos sociais e conta com mais de 200 pessoas inscritas. O grupo já coletou 23 mil assinaturas de pessoas contrárias à concessão do parque.
Diversas figuras públicas, como Eduardo André Viamonte, conhecido como o Cara da Sunga pelos porto-alegrenses, e o músico Carlinhos Carneiro, das bandas Bidê ou Balde e Império da Lã, e políticos como a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL) aderiram ao movimento.
— Este ato é importante para mostrar essa força, que já foi demonstrada pelas milhares de assinaturas coletadas em poucas semanas. Precisamos seguir com essa luta para entrerrar esse projeto da prefeitura, que é entregar por 30 anos um dos nossos principais parques para uma concessionária gerenciar as atividades políticas, culturais, artísticas — diz Fernanda.
O grupo questiona a proposta de construção de um estacionamento subterrâneo, pois aponta que pode haver contaminação do lençol freático, e que poderá haver segregação socioeconômica com a concessão do espaço, que hoje é frequentado por pessoas das mais variadas classes sociais.
Na última sexta-feira (18), ocorreu uma audiência pública para discutir o tema. Devido ao elevado número de inscrições, uma segunda etapa ocorrerá na quarta-feira (23).
— A Redenção é um parque democrático que começou com os escravos alforriados. É um lugar da convivência, da comunidade LGBTQI, dos negros, da periferia, de todos. Não aceitamos esse projeto porque ele é segregacionista — diz Viamonte, Cara da Sunga.
A secretária municipal de Parcerias Estratégicas de Porto Alegre, Ana Pellini, responsável pela proposta de concessão do parque, elogiou a dedicação dos manifestantes e disse que compartilha do mesmo amor pela Redenção.
— O abraço é algo super bacana para a Redenção. Esse pessoal só quer o melhor para o parque, assim como nós. Podemos ter visões diferentes com relação a como conduzir o processo e como cuidar desse nosso parque, mas o amor é comum e nos une. Ficamos até felizes em saber que tem tantas pessoas que se mobilizem tanto na defesa de um parque. Os nossos opositores são outros, aqueles que roubam fios e que depredam, esses sim estão do outro lado — disse a secretária.
Marcha Zumbi Dandara
Após o "abraço" ao parque, parte do grupo se direcionou ao Largo Zumbi dos Palmares para participar da Marcha Independente Zumbi Dandara. A concentração ocorreu às 16h. Após falas de lideranças negras, às 18h, o grupo saiu em caminhada em direção à Orla.
A marcha alusiva ao Dia da Consciência Negra reuniu cerca de 600 pessoas, entre sindicatos, partidos políticos, ONGs, terreiros de religiões de matriz africana. A caminhada se encerrou na Praça do Tambor, onde o grupo chegou por volta de 19h, com atividades culturais.
— Mantemos essa tradição porque a cultura do racismo continua muito viva. Estamos lutando por moradia, emprego. Nosso povo não foi totalmente integrado à sociedade. Matemos a marcha porque o racismo ainda não acabou — diz Douglas Morano de Oliveira Lopes, 29 anos, integrante do coletivo Alicerce.