Um dos fatos que mais se destacam de que a reforma tributária está longe de ser unanimidade foi a divergência entre duas das principais federações empresariais do Rio Grande do Sul sobre a votação do projeto que tramita no Congresso. Fiergs, que representa indústrias, e Federasul, das associações comerciais e de serviços, divulgaram notas públicas nesta segunda-feira (3) com posicionamentos totalmente contrários.
A Fiergs pediu urgência na votação, defendendo que "o novo sistema de tributação tem a capacidade de acelerar o crescimento econômico e beneficiar toda a população, com mais empregos e mais renda." A entidade entende que os impostos que serão substituídos pelo IVA são "obsoletos e problemáticos".
Enquanto isso, a Federasul é enfática ao pedir na nota "um não à votação em julho". Seguiu dizendo que há um atropelo na tramitação do projeto, pediu transparência e que o "sul seja ouvido". Deu o exemplo da cesta básica, que o setor de supermercados tem usado para apontar previsão de alta de carga tributária em alimentos. E, ao contrário da Fiergs, vê risco de extinção de empregos e quer medir este impacto.
No sábado (1º), o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, reuniu-se com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário Extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, em São Paulo. Argumentaram que o projeto aumenta em 60% a carga tributária da cesta básica. Appy rebateu com ênfase:
- A conta que eles trouxeram está errada. Ela desinforma. Eu tenho certeza de que o número que foi trazido aqui é um número claramente superestimado - acrescentando que a entidade desconsiderou, por exemplo, a tributação que existe antes da chegada dos produtos aos supermercados e a redução de custos dos supermercados devido ao corte de outros tributos, o que é proposto pela reforma. Para ele, a conta fica muito parecida ao que é hoje.
- Qualquer setor que vier falar com a gente vai querer a menor alíquota possível sobre aquilo que ele vende. Isso é natural no debate político - concluiu Appy após o encontro.
Nesta linha, em entrevista à coluna, o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, defendeu bastante a reforma tributária. Afirmou que a alíquota de 25% mantém a neutralidade da arrecadação, o que considera justo, e disse que "não adianta olha o umbigo se o todo vai mal.".
Recentemente, a coluna entrevistou o economista Ricardo Amorim, que criticou fortemente a atual proposta de reforma tributária. Argumentou que ela reduz imposto na indústria, mas aumenta em R$ 20 bilhões o que o agronegócio paga e em R$ 480 bilhões para comércio e serviços.
- Como serviços é o setor que mais contrata, um monte de gente vai perder o emprego. Os ganhos da indústria deixam de acontecer porque o consumo despenca. Essa reforma é problema, não solução. Se quer uma justa, a primeira coisa é uma reforma administrativa, acabar com o gasto, reduzir imposto sobre consumo, acabar com a injustiça. Aí, vou sair batendo bumbo pela reforma - falou ao programa Acerto de Contas, da Rádio Gaúcha.
A determinação do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), é votar ainda nesta semana a reforma tributária.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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