Reforma tributária, taxa de juro e novas medidas do governo federal estão na agenda urgente da indústria para os próximos dias e foram pauta da entrevista do Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, com o economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha. A entidade representa o Estado que tem o maior parque industrial do país. Confira trechos abaixo e a íntegra no final da coluna.
Carga tributária é a soma de todos os tributos, e o governo federal promete não aumentá-la com a reforma. Mas alguns pagarão mais impostos, outros menos. A Fiesp já sabe como será esse equilíbrio?
A alíquota que manteria neutralidade da arrecadação seria uniforme de 25%. Seria o justo. A Fiesp defende exatamente isso, não um tratamento diferenciado para a indústria de transformação, mas sim um isonômico. Quando se compara as melhores regras de IVA (Imposto sobre Valor Agregado) no mundo, quanto mais isonômica for, melhor. Sabemos que, na vida real, podem ocorrer exceções, mas quanto menos forem, melhor será para a racionalidade e eficiência econômicas.
Aqui no Rio Grande do Sul, se fala que aumentaria imposto para o agronegócio e o comércio, para reduzir para a indústria. A Fiesp enxerga isso na proposta que está sendo construída?
Eu não coloco dessa forma. Vemos é um alinhamento com as melhores práticas internacionais, 170 países adotam o modelo. Quais são? Canadá, países da Europa, do Sudeste Asiático. Quais não adotam? Cuba, Coreia do Norte, Somália, Iraque e Afeganistão. A reforma do Brasil não é de um determinado setor, até porque é sobre bens e serviços. Quando você desonera consumo, libera renda para a população, sobretudo de baixa renda. Aumenta a demanda por alimentos, roupa, carro, oxigena a economia. A proposta que está sendo posta também desonera investimentos e exportações, que são punidos hoje. Para o agroexportador, é muito bom. Temos um pandemônio tributário, as regras atuais são paleolíticas.
Será que a reforma sai agora mesmo?
O Congresso está em um debate republicano, as pessoas estão enxergando que o todo tem que ser enxergado. A reforma tributária amadureceu muito, assim como a da previdência. Tem coisas que têm um timing para acontecer. A tributária é, hoje, a maior das reformas. Tem que deixar de ser vista como setorial, mas como uma reforma de país. Não adianta olhar para o próprio umbigo, pegar determinados setores e empresas que vão muito bem, enquanto o todo vai muito mal. Temos que olhar não como setor, município ou Estado, mas como nação. Se não, estamos condenando o país a continuar sendo de renda média.
Qual a expectativa para as medidas que o governo federal anunciará para a indústria nos próximos dias?
Não sabemos exatamente o que virá, mas tem coisas muito importantes para a indústria, como o financiamento. O setor está muito machucado porque é sensível ao aumento forte dos juros. Outros países têm medidas de arrefecimento das condições restritivas do juro. O agro tem LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). O setor imobiliário tem CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário). Infraestrutura tem debêntures incentivadas. Fazem com que o aumento do juro impacte menos esses setores. A indústria não tem.
Quando o Banco Central deve reduzir o juro?
Se pegar o consenso de mercado, a expectativa é para o final do ano. Eu vejo condições adequadas para fazê-lo antes. Da mesma forma que o Branco Central se equivocou colocando a Selic a 2%, se equivoca também colocando a 13,75%. Vamos do céu ao inferno muito rápido, sendo que tem um meio termo que se chama planeta Terra. Tenho dificuldade de enxergar o porquê que de uma dose tão elevada. Não quer dizer que tenha que dar um cavalo de pau e jogar uma taxa de juro a 6%.
Colaborou Vitor Netto
Ouça a entrevista na íntegra:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br) Leia aqui outras notícias da coluna