Foi um belo balde de água fria no varejo a portaria da Receita Federal que isentou de imposto de importação as compras do Exterior até US$ 50, o que hoje beneficia apenas remessas entre pessoas físicas. Ficou apenas o ICMS de 17%, o que não é suficiente para combater a concorrência desleal. A negociação com os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio deixava os empresários na expectativa de que seria mantida a alíquota do imposto federal em 60% e que começaria a ser cobrado na hora da compra para evitar a sonegação atual, especialmente de sites asiáticos.
A insatisfação provocou uma reunião ainda no sábado em São Paulo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os lojistas foram dizer que a portaria veio "ao contrário" do que se esperava e que isso tornará o varejo "insustentável". E mais: a entidade disse que a carga tributária deste jeito levará as empresas brasileiras para o Exterior para que se tornem importadoras, pois será mais vantajoso. Os empregos, renda e impostos vão junto. De resposta, receberam de Haddad a promessa de que essa isenção será revisada em breve. Pela portaria, o imposto de importação será zerado em agosto. A conferir.
Impacto na gigante
Das varejistas na reunião com Haddad, a única com dois executivos representantes foi a gigante gaúcha Lojas Renner. Participaram o CEO Fábio Faccio e o executivo financeiro Daniel Santos. A coluna vem tentando entrevista com a rede sobre o assunto, mas, enquanto isso, apurou que a portaria deixou a direção da empresa muito preocupada. Na sexta-feira, as ações da Renner fecharam em forte queda de 6,5% na bolsa de valores de São Paulo. A concorrência com Shein e Shopee tem batido forte nas lojas de confecções, deixando a gaúcha bastante exposta ao avanço das chinesas.
Pedido de Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pediu na reunião que os varejistas exponham ao público o impacto econômico da sonegação, o que, convenhamos, não tem sido feito como poderia. É difícil para o governo federal tomar medidas que atinjam plataformas como Shein e Shopee. Não é popular. A coluna mesmo recebe uma avalanche de críticas quando trata do assunto. O IDV até tem apresentado dados importantes sobre o prejuízo ao varejo nacional e explicado as negociações. Mas a fala de uma entidade não desenha o cenário claro que uma empresa de marca conhecida consegue ao expor que está fechando lojas e diminuindo postos de trabalho. É preciso rever estratégias de comunicação.
Desabafo
Varejista de roupas e vice-presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas POA), Carlos Klein fez um desabafo à coluna. Disse que a portaria formaliza o "extermínio do pequeno varejista nacional, entregando na bandeja a competitividade para quem produz no Exterior e comercializa nas plataformas digitais". E diz: "beneficia o consumidor com produto mais barato, mas sacrifica o emprego desse mesmo consumidor". E, claro, para reduzir preço aqui, pede que seja diminuído o imposto para o varejo brasileiro.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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