Insatisfeitos e até negativamente surpreendidos com uma portaria publicada na saideira da semana, varejistas se reúnem neste sábado (1º) mesmo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com a participação de Bernard Appy, "o cara" da proposta de reforma tributária. O gatilho do encontro em pleno final de semana foi o texto da Receita Federal que saiu no Diário Oficial da União tirando imposto de importação de compras de até US$ 50 a partir de agosto, isenção que existe agora apenas para remessas entre pessoas físicas. Pela medida, ficarão só os 17% de ICMS acordados entre os Estados. Cairão os 60% ou virá uma alíquota intermediária mais adiante. Depois de um pedido escrito de entidades para que o imposto seja cobrado, Haddad falou em entrevista que essa é uma etapa de um programa que está chamando de Remessa Conforme.
Das redes de varejo que participarão, a única com dois executivos representantes é a gigante gaúcha Lojas Renner. Participarão o CEO Fábio Faccio e Daniel Santos, executivo financeiro da empresa. A Rádio Gaúcha vem tentando entrevista com a rede sobre o assunto, mas, enquanto isso, apurou que a portaria foi um balde de água fria no comando da empresa e nos varejistas que leram o texto com um olhar mais aguçado. O que vinha se negociando com o governo federal era cobrar o imposto que existe e é sonegado por dribles de alguns sites estrangeiros. A cobrança seria diretamente na hora da compra, disse à coluna há duas semanas o presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves, que vem participando das conversas e estará na reunião com Haddad neste sábado.
Aliás, a portaria impactou as ações da Renner. Na sexta, os papéis fecharam em forte queda de 6,5% na bolsa de valores de São Paulo. A concorrência com Shein e Shopee tem batido forte nas lojas de confecções, deixando a gaúcha bastante exposta ao avanço das chinesas. Teve também o anúncio de que a Shein passará a produzir no Rio Grande do Norte já agora em julho.
Em tempo, cobrar o ICMS (e ele ser pago) é ótimo para os governos estaduais, óbvio. Porém, não suficiente para a concorrência leal pedida pelos varejistas nacionais. Além disso, também não serve de medida saneadora do governo federal para aumentar arrecadação atacando imposto sonegado.
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Equipe: Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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