As soluções e os desafios para o agronegócio foram debatidos na quarta edição de uma série do Painel RBS conectada ao movimento “Pra cima, Rio Grande” que foca na reconstrução do Estado em diferentes setores após a enchente de maio de 2024. O evento foi realizado nesta terça-feira (13) e transmitido ao vivo em GZH.
Tendo a 47ª edição da Expointer, que ocorre de 24 de agosto a 1º de setembro, como símbolo da retomada, o encontro abordou a necessidade de auxílio e a resiliência dos produtores rurais que, mesmo com as perdas causadas pelo excesso de chuva e pela enchente, seguem trabalhando e acreditando na força do setor.
O painel reuniu o secretário da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do RS, Clair Kuhn, o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS), Eduardo Condorelli, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva, o diretor vice-presidente da Federação da Agricultura (Farsul), Domingos Velho Lopes, e Paulo Learsi, que é um dos coordenadores do Movimento SOS Agro. O encontro foi mediado pela jornalista e colunista de Zero Hora Gisele Loeblein.
Segundo levantamento divulgado em junho pela Emater, mais de 200 mil propriedades rurais foram, de alguma forma, afetadas pelo fenômeno climático, o que mostra a complexidade do obstáculo a ser vencido pelo setor que é considerado o motor da economia do RS. Conforme resumiu a mediadora, há desafios temporários, como estragos que ficaram e que precisam ser consertados, os de médio prazo, como o planejamento da próxima safra, e os que levarão mais tempo, como a recuperação dos solos, profundamente impactados pelas águas.
O próprio parque da Expointer foi afetado pela inundação. Alguns pontos chegaram a ter mais de um metro de água acumulada. A reconstrução do espaço foi destacada pelo secretário Clair Kuhn. O trabalho realizado no local, segundo o secretário, é a representação da resiliência do produtor:
— Teremos um recorde neste ano, com mais agroindústrias do que no ano passado. Estamos trabalhando incessantemente nos últimos dias para fazer a parte elétrica, hidráulica, novos banheiros, novas áreas de estacionamento. Vamos encontrar, quando abrirmos os portões, uma Expointer mais renovada do que foi na última edição.
Para o secretário, a realização da Expointer mesmo com todos os percalços também revela a importância da agricultura para o Estado:
— O RS é agrícola, o Estado depende de mais 40% dos recursos gerados pela agricultura.
Carlos Joel da Silva, da Fetag-RS, ressaltou que a Expointer, considerada a maior feira agropecuária a céu aberto da América Latina, consegue alavancar o setor, o que é crucial, principalmente neste momento após a catástrofe. Ele também mencionou que é preciso valorizar a força do agricultor pela vontade de se reinventar:
— Eu fui, 15 dias depois da tragédia, visitar produtores no Vale do Taquari e a gente chegava lá e via a casa toda destruída, eles morando, mas ao lado tinha uma horta, verduras plantadas. É uma força, uma vontade de fazer as coisas andarem. O gaúcho traz essa essência de se reinventar nos momentos de dificuldades, mas precisamos de mais ajuda — reiterou.
Apoio psicológico
São variados os problemas que os produtores enfrentam. Já vinham de ao menos duas safras de pouca chuva e uma estiagem que resultou em dívidas que ainda se acumulam. Depois, a enchente em setembro do ano passado e mais uma em maio. Entre as questões a serem enfrentadas, está a saúde mental das pessoas que dependem do setor para sustento de suas famílias.
— Fizemos um levantamento de 17 mil propriedades e identificamos 5 mil realmente arrasadas e, efetivamente, nosso trabalho tem sido de resgatar essas pessoas com várias ações, inclusive de apoio psicológico. Foi uma demanda dos produtores, mais de 25% dos visitados pedem ajuda de psicólogos — explicou o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli.
Próximas safras
Além de lidar com as atuais dificuldades, o produtor rural ainda precisa pensar na próxima safra. Contudo, o setor sabe que enfrentará mais desafios ao longo desse planejamento.
— Já está comprometida. O produtor não tem cabeça e não tem dinheiro para pensar na próxima safra — salientou um dos coordenadores do Movimento SOS Agro, Paulo Learsi.
— As próximas vão estar comprometidas. O tamanho do comprometimento vai depender do que vem do governo federal — acrescentou Carlos Joel da Silva, da Fetag, reiterando, ainda, que são necessárias obras de recuperação de estradas, já que muitas propriedades perderam os acessos.
Em busca de recursos
Na quinta-feira (8), Porto Alegre foi palco do Movimento SOS Agro, que trouxe para a Capital um tratoraço, além de um encontro com milhares de produtores no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. O objetivo do movimento é, principalmente, cobrar do governo federal medidas que atendam os agricultores e os pecuaristas afetados pela enchente e que já vinham acumulando dívidas das últimas estiagens. De acordo com Paulo Learsi, o principal pedido da categoria é por recursos:
— Sou produtor rural, a minha família está há cem anos na beira do Rio Jacuí e nunca aconteceu o que aconteceu neste ano. Precisamos de recurso financeiro. Temos máquinas, temos gente, mas infelizmente o produtor gaúcho não tem recursos. A reconstrução passa por isso.
O diretor vice-presidente da Farsul, Domingos Velho Lopes, reiterou a cobrança:
— Somos um povo resiliente, trabalhador, mas nos deem a oportunidade. A sociedade precisa entender que aquela calamidade que aconteceu na Grande Porto Alegre, no Vale do Taquari, na Serra, persiste no campo. Porque se perdeu tudo, toda uma produção. Já vínhamos de dois anos de seca.
Próxima edição
A série especial do Painel RBS com foco na reconstrução teve início no dia 27 de junho, abordando a retomada do turismo no RS. Outras edições serão realizadas ao longo dos próximos meses, com foco em setores-chave da economia local. A próxima será no dia 22 de agosto, das 14h às 15h, com transmissão em GZH. O tema será a retomada da indústria e do comércio.
Relembre episódios anteriores: