Os obstáculos e as ações necessárias para a reconstrução do Vale do Taquari foram temas da segunda edição da série especial do Painel RBS, realizada nesta quarta-feira (10), em Lajeado. Representantes de setores com participação ativa nesse processo discutiram gargalos e propostas para agilizar o restauro da região, inundada em três ocasiões nos últimos meses. O debate integra a frente de iniciativas do movimento "Pra cima, Rio Grande", criado pelo Grupo RBS com foco na reconstrução do Estado.
Mediado pelo apresentador Elói Zorzetto, o painel jogou luzes sobre a necessidade de união entre municípios para políticas públicas mais assertivas e de reconstrução preventiva e sustentável, que são o caminho para o bem-estar de moradores e negócios no Vale do Taquari.
O promotor de Justiça da Bacia do Taquari-Antas, Sérgio Diefenbach, afirma que a tragédia climática está colocando à prova o sistema federativo e a governança. Diante disso, é necessário avançar na coletividade para costurar soluções conjuntas e mais eficientes para prevenir e enfrentar eventos dessa magnitude. É preciso reaprender a conviver com os rios e reconstruir de forma mais segura, segundo o promotor:
— É preciso planejar e verificar onde é possível reconstruir, onde será necessário construir e onde será necessário afastar. Isso é uma construção de cidade, isso é planejamento de cidade, isso precisa mexer no plano diretor do município, na nossa forma de relação pessoal, institucional e econômica com o próprio Rio Taquari porque é um recurso hídrico que tem velocidade própria, tem uma violência própria.
Além dos danos causados em casas, empresas e órgãos públicos, a sequência de enchentes que afetou o Vale do Taquari sufocou a logística da região, com estradas danificadas e pontes caídas. Na avaliação da reitora da Univates, Evania Schneider, se as pesquisas científicas tivessem sido aproveitadas de maneira mais efetiva, o dano poderia ter sido menor. Olhando para frente, a reitora reafirma a necessidade de se repensar o plano diretor das cidades, trabalho que vem sendo feito com ajuda da universidade:
— Tem de repensar todo o município, a questão do zoneamento, a questão territorial, ambiental e de saneamento. Enfim, são problemas recorrentes também nas nossas cidades.
A união de esforços entre municípios da região, com planos diretores que conversam entre si e uma reconstrução coletiva, também ajuda a reter moradores e a estimular e manter o emprego, segundo os painelistas. Ângelo Fontana, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) do Vale do Taquari, destaca que o estímulo ao bem-estar é um dos principais pontos nesse sentido:
— Não adianta ter uma empresa retomada, reconstruída, se não tiver os talentos trabalhando. Então, o trabalho é muito mais amplo. É a mobilidade, é a moradia, é o bem-estar das pessoas. Porque, caso contrário, as pessoas fogem do Vale.
Seguindo nessa linha, Gilberto Antônio Piccinini, presidente do Conselho de Administração da Cooperativa Dália, reforça a necessidade de se pensar em infraestrutura que suporte melhor eventos climáticos extremos:
— Proteger não só patrimônio, mas também as famílias, as pessoas que vão morar. Pensar na infraestrutura toda. Na energia elétrica, que não pode ter linha de transmissão em área alagada. Não dá para assentar pessoas próximo de lugares que ficam alagados, que não conseguem chegar até a empresa e trabalhar.
Necessidade de recursos
Entre os gargalos que seguram retomada mais célere da região, os debatedores citaram a demora na chegada de ajuda federal e recursos repassados em montante insuficiente. Alongamento do endividamento, crédito com carência e prazos maiores e vantagens tributárias também entram nesse rol de demandas, segundo os painelistas.
— A gente precisa de acesso a financiamento realmente barato. Precisamos de vantagem tributária. A gente tem de enxergar a região como uma região carente de uma vantagem tributária para sua recuperação. É isso que, no futuro, vai permitir às empresas retornarem a sua contribuição através da geração de riqueza, de os impostos retornarem isso para toda a sociedade _ destacou Joni Zagonel, presidente da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (ACIL).
A série especial do Painel RBS com foco na reconstrução teve início no dia 27 de junho, abordando a retomada do turismo no Rio Grande do Sul. Outras edições serão realizadas ao longo dos próximos meses, com foco em setores-chave da economia local: a próxima será no dia 16 de julho, tendo como tema a reconstrução criativa.