O Brasil tem um dos maiores custos logísticos mundiais, especialmente frente a seus concorrentes diretos na produção agrícola, incluindo, aqui, desde soja e milho, como matérias-primas para toda a cadeia produtiva, que inclui frangos, carnes suínas e bovinas.
Falta generalizada de infraestrutura na área de transporte, insuficiência de armazenagem adequada para conservar nossos grãos, políticas erráticas quanto ao preço dos derivados de petróleo – especialmente do diesel –, ineficiência e falta de integração das chamadas autoridades intervenientes em processos de comércio internacional, e falta de investimentos em produtividade e eficiência são alguns dos tópicos responsáveis por esses elevados custos.
A recente paralisação nacional dos caminhoneiros por 11 dias agravou tal situação. Além da mortandade de animais e do desperdício de leite e demais derivados, houve uma enorme insensibilidade do governo federal quanto aos pleitos legítimos e necessários dos transportadores como um todo, como os aumentos diários dos combustíveis que movimentam o setor. A maneira pouco profissional, a falta de interlocução séria e algumas ações desastradas da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) levaram ao impasse atual sobre a já famosa tabela de fretes que inviabiliza a comercialização de quase todos os produtos brasileiros.
Tabelamento de preços em uma economia de mercado é a demonstração cabal da falta de um projeto político e econômico de governo. Já vimos essa história antes, quando fiscais caçavam bois no pasto para abastecimento de um mercado que se recusava a entregar produtos pelos preços fixados.
No caso do transporte, houve uma inversão, pois os preços tabelados estão muito acima daqueles praticados, e, em uma economia que recém tenta se recuperar de vários anos de recessão, os valores fixados não correspondem à realidade nua e crua do mercado. O excesso de caminhões calculado em cerca de 300 mil é um dos principais responsáveis pelo baixo preço do frete, e não se pode consertar isso do dia pra noite. O que começou como um problema – preço e variação diária dos combustíveis – acabou gerando outro transtorno muito maior, cuja solução passa por obter consensos mínimos de lado a lado com técnica, sabedoria e, acima de tudo, muito bom senso, ingredientes atualmente em falta nessas discussões.
Frank Woodhead: consequências da recente paralisação dos caminhoneiros para o setor agrícola é vice-presidente de Logística do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs)