A paciência – e até a simpatia – com o movimento dos caminhoneiros acabou. A intransigência em dar passagem às cargas vivas e a produtos altamente perecíveis como o leite, desidratou o apoio oferecido por pessoas e entidades ligadas à produção. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) emitiu nota retirando o endosso feito na semana passada à paralisação.
– Entendemos que o movimento está perdendo o foco e o controle. Nós, como sindicalistas, jamais podemos apoiar grupo que está pregando a intervenção militar – diz Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS.
Na Serra, houve relatos de intimidações feitas a motoristas que saíram para coletar leite. Dados do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do RS (Sindilat-RS), contabilizam 51 milhões de litros de leite perdidos.
Os prejuízos se multiplicam nos setores de aves, suínos, bovinos e hortifrutigranjeiros. Mais de cem mil famílias de agricultores estão sendo afetadas, estima a Fetag-RS.
– Não faz mais sentido, o pleito é legítimo, mas tem limites, não podemos ser irresponsáveis. Nas nossas manifestações, tentamos atrapalhar o mínimo possível as pessoas que têm o direito de ir e vir. Uma semana de greve dá para entender, continuar depois de um acordo, não faz nenhum sentido – opina Antoninho Rovaris, secretário de Política Agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Em nota, o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa) diz respeitar o movimento, mas alerta para a situação que vem ocorrendo nos últimos dias no setor de proteína animal.
– Em tudo o que é ponto tem carga perecível. Hoje (terça-feira) vai fazer nove dias que não enxergo uma carga dos atacadistas – lamenta Sergio Di Salvo, presidente da Associação dos Atacadistas da Ceasa, que estima mil caminhões trancados.
No Vale do Taquari, entidades alertam para o risco iminente de emergência sanitária a instalar-se na região se a logística não for restabelecida.
Há um apelo aos manifestantes para que liberem o caminho para veículos com rações e cargas vivas. O argumento de que a categoria não suportava mais aumentos de combustíveis começou a se perder diante de tamanho prejuízo.