Iniciada em novembro, a série TBT 2024 revisita coberturas marcantes de jornalistas de Zero Hora e Rádio Gaúcha neste ano. Repórteres e comunicadores relembram momentos da tragédia climática no Estado, grandes operações policiais e acontecimentos que chocaram o Rio Grande do Sul e o país. Na sexta e última publicação, Andressa Xavier, gerente de jornalismo da Rádio Gaúcha e colunista de GZH, relembra como foi fazer a cobertura de um caso que chocou os gaúchos.
O corpo de Kerollyn Souza Ferreira, nove anos, foi encontrado em um contêiner de lixo em Guaíba, na Região Metropolitana, em 9 de agosto. Ela era carinhosa e pedia abraços e beijos, descreveram vizinhos e familiares. Conforme o caso era atualizado, as circunstâncias de negligência e de possíveis maus-tratos ficavam cada vez mais evidentes.
— Quando a gente vai vendo quem ela era, o quanto ela sofreu, que ela pedia abraços, que ela ia ao colégio dos irmãos, a gente vai sentindo junto com os nossos ouvintes. Então, era uma história muito difícil de ser contada por si só. E, quando vêm esses outros detalhes, a gente precisa contar de uma forma que as pessoas entendam a gravidade da situação, mas que a gente também não possa detalhar o quanto essa criança sofreu — conta Andressa Xavier.
A cobertura
Os pais de Kerollyn foram indiciados pela Polícia Civil como responsáveis pelo caso. A mãe, Carla Carolina Abreu de Souza, por maus-tratos com resultado de morte e violência psicológica. O pai, Matheus Lacerda Ferreira, que vive em Santa Catarina, por abandono material e violência psicológica.
O inquérito policial não determinou o motivo da morte da menina. Em depoimento, Carla Carolina confirmou que deu Clonazepam (medicamento sedativo) para a filha. Entre os laudos analisados, está o exame toxicológico que confirmou a presença do remédio no corpo de Kerollyn. Em 10 de dezembro, a mãe da menina teve a prisão decretada pela segunda vez. Ela está detida desde então.
Nos primeiros dias após a morte da menina, a reportagem apurou que moradores do bairro Cohab Santa Rita teriam notificado mais de uma vez o Conselho Tutelar de Guaíba a respeito da situação de Kerollyn — uma vizinha contou ter ligado mais de 20 vezes ao órgão. Ela recebeu um áudio da conselheira tutelar Ieda Lucas dizendo que o órgão estava "acompanhando a situação".
Em 13 de agosto, o programa Gaúcha Atualidade entrou em contato com outra conselheira tutelar da cidade, Andréa Rodrigues, que desligou ao ser perguntada se conhecia Kerollyn.
— A gente estava atrás do Conselho Tutelar de Guaíba, que simplesmente desapareceu, não queria falar. E aí a nossa produtora ligou e pediu para que ela conversasse conosco no ar. Ela aceitou na hora, mas não queria responder sobre o caso em si. Por isso, quando eu perguntei a respeito do caso da menina, ela desligou o telefone, não quis mais falar. Disse que o combinado era falar somente sobre como funciona o Conselho Tutelar — explica Andressa.
Sequência de casos envolvendo crianças em 2024
Além da história da menina de Guaíba, os gaúchos também se depararam com outras investigações envolvendo mortes de crianças no Estado este ano. Em Igrejinha, em outubro, gêmeas de seis anos morreram em um intervalo de oito dias. A mãe delas, Gisele Beatriz Dias, está presa por suspeita de envenenar as filhas.
Também em agosto, uma menina de sete anos foi encontrada morta atingida por golpes de faca, em Novo Hamburgo. A mãe da criança é considerada a principal suspeita de ter assassinado a filha. Ela foi presa em flagrante pela polícia.
— A gente já viu caso de matar porque chorou, de matar porque atrapalhava o relacionamento, enfim, motivos que não existem — comenta a gerente de jornalismo da Rádio Gaúcha. — É um caso que assusta e que, sim, precisa vir à tona para evitar novos, para a sociedade se ligar nisso, para a comunidade, vizinhos e professores notarem os sinais. Esse é um debate que continua muito importante.
Produção: Laura Pontin
Supervisão: Gabriel Salazar