Quase três meses após o resgate da atriz e modelo Maidê Mahl, que foi achada ferida e debilitada num quarto de hotel da capital paulista, resta nebuloso o episódio. A gaúcha de Venâncio Aires foi socorrida com sinais vitais frágeis, em 5 de setembro, quando a Polícia Civil destrancou o dormitório do 15º andar e deu partida a um trabalho para reconstituir os fatos. Sem êxito.
Caberá agora à 6ª Promotoria Criminal do Ministério Público do Estado de São Paulo examinar o resultado da atuação policial e definir se devem ser realizadas mais ações em busca das respostas não encontradas até o presente momento.
A jornada policial no caso se iniciou com um bem-sucedido trabalho de localização, realizado por agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), sob o comando da delegada Ivalda Aleixo.
Foi o DHPP quem diligenciou, entre 2 e 5 de setembro, pela busca de imagens e testemunhas, obtendo a posição de Maidê após o rastreio das evidências de deslocamento da atriz. Contudo, não há conclusões acerca do que aconteceu a ela no interior da hospedagem de alto padrão, no Centro de São Paulo, no período em que esteve hospedada.
O caso, na 6ª Promotoria Criminal, está sob exame da promotora de Justiça Márcia Macedo. A representante do MP paulista tem cerca de 30 dias, suscetíveis a prorrogação, para efetuar a análise. As deliberações da promotoria serão remetidas ao Poder Judiciário daquele Estado.
Havia alguém com Maidê?
O ponto-chave da investigação, apontado no relatório final do inquérito policial, é definir se Maidê esteve sozinha durante os três dias de hospedagem ou se teria interagido com alguém. Tal resposta ganhou contornos de mistério, quando a Polícia Civil divulgou o resultado de seu trabalho e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo informou, por nota, que os laudos periciais foram "inconclusivos quanto à participação de terceiros nas lesões sofridas pela vítima".
A própria SSP informou, no andamento do inquérito, que ninguém havia acessado o quarto do hotel. Contudo, a manifestação ao final da apuração indicou que não foi possível confirmar tal hipótese.
Ferimentos pelo corpo
Segundo a autoridade policial paulista, Maidê teria sofrido convulsões e ficou semiconsciente, tendo se ferido antes ou durante o episódio convulsivo. Não há imagens do interior do quarto. Câmeras do corredor teriam gravado integralmente o período no qual a atriz esteve recolhida no dormitório, sem evidenciar eventuais contatos entre ela e funcionários ou hóspedes.
Maidê tinha ferimentos na cabeça e nas mãos. Com estado clínico bastante delicado, a gaúcha ficou internada na UTI do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP por quase um mês, passando no início de outubro para leito convencional na instituição hospitalar, que deixou de emitir boletins de atualização.
A polícia pretendia ouvir a atriz. Por conta da situação delicada envolvendo a recuperação de sua saúde, ela não ficou apta para prestar seu relato. Não foram localizados registros de telefonemas ou pedidos de serviços à recepção do hotel.
A reportagem de Zero Hora solicitou entrevista com a diretora do DHPP à assessoria de comunicação da SSP, que respondeu que não haverá falas à imprensa. A assessoria limitou-se a reenviar nota que havia sido remetida em resposta a pedido anterior, feito no dia 19 de novembro (leia a íntegra abaixo).
Relembre o caso
- Maidê mora e trabalha em São Paulo desde 2017. Mantém carreira como atriz e modelo. De acordo com a investigação policial, saiu de seu apartamento, situado no bairro Moema, por volta de 16h do dia 2 de setembro. Entrou em um mercado e comprou três caixinhas de água de coco. Pagou em dinheiro.
- Dali, chamou transporte por aplicativo e dirigiu-se a um tabelionato no bairro da Liberdade. Contratou o reconhecimento de sua assinatura em um documento, cujo teor ainda é desconhecido, e rumou ao hotel, novamente em deslocamento por app, por volta de 16h40min.
- O check-in no hotel ocorreu por volta de 17h30min. Maidê entrou no quarto e não interagiu com ninguém, nem mesmo para pedir serviços de alimentação, higienização ou arrumação do dormitório.
- Estranhando a ausência, amigos comunicaram o desaparecimento à polícia. Os investigadores rastrearam os deslocamentos por meio de registros da companhia de transporte e por checagem de imagens de câmeras públicas e privadas.
- Maidê foi achada caída, com o corpo inerte, parcialmente escorado contra a porta do quarto onde estava hospedada. Conforme a polícia, não havia indicativo de violência, nem uso de substâncias tóxicas, além de uma medicação para a qual havia prescrição médica. A atriz teria consumido apenas a água de coco que levou consigo.
- O trabalho da Polícia Civil e da Polícia Científica, a partir da localização de Maidê, foi discreto. Autoridades evitaram divulgar dados relacionados à apuração. O inquérito, aberto em 13 de setembro, que investigou o suposto crime de lesão corporal, reuniu depoimentos e perícias, remetidos com o relatório da Polícia Civil nesta semana ao Poder Judiciário do Estado de São Paulo.
Leia a nota da polícia
O caso citado foi investigado pelo DHPP, que encaminhou o inquérito para a apreciação do Poder Judiciário, após a análise dos laudos terem sido inconclusivos quanto à participação de terceiros nas lesões sofridas pela vítima. Maiores informações devem ser solicitadas à Justiça.