Deise Moura dos Anjos, 42 anos, "provavelmente não sairá da cadeia nesta vida", diz o delegado Heraldo Guerreiro, subchefe da Polícia Civil gaúcha. Ela está presa temporariamente por suspeita de matar três familiares por envenenamento e intoxicar outros três (num bolo de Natal) e assassinar de forma premeditada o sogro, Paulo Luiz dos Anjos, num outro episódio (em agosto).
Os investigadores, comandados pelo delegado Marcos Veloso, de Torres, estão convencidos de que se depararam com uma serial killer. A expressão é usada para assassinos que matam em série. A se julgar pelas provas colhidas, é o que parece ter acontecido no caso de Deise. Primeiramente, porque ela teria cometido os assassinatos em ocasiões diferentes e, pior, teria tentado matar outros familiares em outras oportunidades (o que justificaria a expressão mortes "em série").
O perfil se aproxima também de serial killers históricos porque, conforme os indícios, a suspeita agiu de forma totalmente dissimulada. Não teve um ataque de fúria, um rompante sanguinolento.
- Ela pesquisou, comprou, recebeu e usou o veneno para matar as vítimas. Foi meticulosa - detalha o delegado Cleber dos Santos Lima, chefe do Departamento de Polícia do Interior (DPI) da Polícia Civil, que acompanha todos os passos da investigação.
O secretário da Segurança Pública Sandro Caron (que também é delegado) está convencido de estar diante de um crime sem precedentes no Rio Grande do Sul. Talvez algo tão horrendo só no século XIX, quando na Rua do Arvoredo (atual Fernando Machado, em Porto Alegre), um casal (o açougueiro José Ramos e sua esposa, Catarina Paulsen) mataram, desossaram e trituraram homens atraídos por Catarina. Teriam transformado as vítimas em linguiça.
Eu me atrevo a lembrar um outro caso de assassinatos em série, recente. Entre 2002 e 2004, um andarilho e lutador de muay thai matou pelo menos nove crianças na região norte do Estado, antes de ser descoberto pela Polícia Civil. Ele chegou a confessar assassinato de 12 meninos, mas nem todos corpos foram encontrados. Escolhia ao acaso suas vítimas, entre menores carentes. Em depoimento, o serial killer disse que tinha "vício em matar".
Dificilmente teremos de parte da suspeita de envenenar familiares no Litoral Norte esse tipo de confissão. O delegado Marcos Veloso a interrogou por cinco horas e ficou impressionado. Frieza e manipulação são as expressões usadas por ele para definir Deise Moura dos Anjos. O que parece se desenhar é uma personalidade vingativa, incapaz de tolerar o que considera agressões. As vítimas seriam pessoas que em algum momento tiveram discussões ou falaram mal dela. Tudo isso ainda terá de ser comprovado, judicialmente. Mas não há dúvidas de que estamos ante um dos mais cruéis casos criminais da história gaúcha.