Residencial conflagrado pelo tráfico de drogas, o condomínio Princesa Isabel, no bairro Azenha, em Porto Alegre, é alvo de operação da Polícia Civil no começo da manhã desta quinta-feira (31). Uma investigação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) e do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) levou a polícia a desencadear a nova ofensiva no local.
A investigação teve início com um caso de tentativa de homicídio, no contexto de violência doméstica, contra uma mulher. Segundo a polícia, o crime foi cometido por bandidos que comandam o tráfico de drogas no interior do condomínio. A tentativa de feminicídio, no entanto, aconteceu fora do residencial. São cumpridos nesta manhã mandados de prisão contra três suspeitos. Até as 7h, havia um homem preso e uma pistola de calibre 380 apreendida.
Os investigados, segundo a polícia, já tinham antecedentes por crimes como organização criminosa, tráfico de drogas, homicídio, roubo e porte ilegal de arma de fogo. Um adolescente também é investigado por suspeita de participação no caso, e tem mandado de internação.
Segundo a delegada Fernanda Campos Hablich, da 1ª Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre, os alvos foram os autores da tentativa de feminicídio ocorrida no ano passado. A vítima tinha ligação com os suspeitos pelo tráfico de drogas e a investigação se iniciou a partir do registro desse crime.
— É de grande valia a população ter conhecimento de que crimes graves contra as mulheres não ficarão impunes, mesmo que sejam casos complexos, como esse, que envolve outros crimes. A Polícia Civil, por meio do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis, tem atuado exaustivamente no combate ao feminicídio — afirma a delegada.
Além do caso de tentativa de homicídio contra a mulher, são investigados outros crimes, como tráfico de drogas e porte ilegal de munições e armas de fogo. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão, sendo cinco deles, dentro do complexo e dois nas adjacências do condomínio.
— O Denarc sempre tem investigação em andamento em relação ao condomínio, coletando informações e fazendo monitoramentos. Ali é um ponto conhecido de tráfico, historicamente numa região centralizada. Com a ocorrência desse feminicídio tentado, a Deam procurou o Denarc, pois a investigação tinha identificado que traficantes dali teriam realizado o crime — afirma o delegado Rafael Liedtke, da 2ª Delegacia de Investigação do Narcotráfico (DIN).
Armas e drogas
Segundo os policiais, o residencial segue dominado por uma facção, que coordena o tráfico de drogas ali dentro. A polícia faz buscas em pontos nos quais se há suspeita de que possa haver armazenamento de armamentos e drogas por parte dos criminosos.
— Lá dentro, os traficantes acabam se misturando em meio às pessoas de bem. Acabam usando apartamentos como depósitos de armas, drogas e dinheiro pela facção. É importante salientar que são mandados pontuais. Não se trata de uma ação em vários apartamentos e sim naqueles onde se há essa suspeita. Queremos preservar a privacidade das pessoas de bem que lá moram — diz o delegado Liedtke.
O mesmo grupo, que possui atuação em todo o Estado, mantém pontos de controle em outras áreas da Capital, como a Vila Planetário, onde também são cumpridos mandados nesta manhã, assim como num apartamento na Avenida Ipiranga.
— A gente sabe que essas armas são usadas para manutenção do monopólio que uma facção tem ali dentro do condomínio. Acabam protegendo os pontos de vendas de drogas de uma eventual tomada por parte de traficantes rivais — afirma o delegado.
Diretor do Denarc, o delegado Carlos Wendt também considera que a ofensiva desta quinta-feira é relevante, justamente por envolver um local explorado pelo tráfico de drogas.
— Trata-se de uma ação importante por envolver um local bem conflagrado e que, mais uma vez, tem-se notícias da ocorrência de crimes graves. Importante salientar que, a maioria das pessoas que lá residem, é de pessoas de bem, trabalhadores, estudantes, mas há um grupo que insta em afrontar o sistema legal e esse grupo será alvo constante das forças policiais enquanto insistirem nessas práticas criminosas — afirma.
A chamada Operação Blanco é resultado de uma ação conjunta entre a e 2ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico, do Denarc, a 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre e a 3ª Delegacia Proteção à Criança e Adolescente. Durante a operação, a polícia também realiza diligências em relação a um outro caso de feminicídio, ocorrido em 2022.
Outros casos
O residencial fica a poucas quadras do Palácio da Polícia e já foi alvo de diversas operações contra o tráfico. O local, no entanto, continua sob domínio de organizações criminosas.
Confira alguns episódios anteriores no mesmo condomínio:
Confronto
Em setembro, uma ação policial terminou em confronto no condomínio. Conforme a Brigada Militar (BM), um homem foi baleado e outro foi preso. Segundo a BM, três homens foram vistos embarcando num veículo suspeito, na Avenida Bento Gonçalves. Com a aproximação da guarnição, os três suspeitos, mais o motorista, teriam fugido para dentro do condomínio.
De acordo com a BM, um veículo com as mesmas características havia sido usado no assassinato de uma mulher no bairro Santana, e, por isso, houve a tentativa de abordagem. A viatura teria sido impedida de entrar no residencial. A pé, os policiais seguiram acompanhando os suspeitos. Dois fugiram, um teria apontado uma arma e acabou baleado. Outro foi preso.
Presos
Em julho deste ano, a Polícia Civil prendeu uma mulher e um homem apontados como lideranças do tráfico de drogas no condomínio. As prisões ocorreram em uma casa de alto padrão num condomínio no bairro Vargem Grande, na capital do Rio de Janeiro, durante operação integrada entre as polícias dos dois Estados.
A mulher, de 50 anos, é apontada como líder do tráfico de drogas no condomínio Princesa Isabel. Ela seria a sucessora do marido, Renato Fao Gambini, morto em 2022, no comando do tráfico no residencial. O homem, de 25 anos, é apontado como principal gerente do tráfico no local. A Operação Sucessão foi fruto de uma investigação da Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic);
Morto
Em maio deste ano, Vladimir Abreu de Oliveira desapareceu após uma abordagem realizada em frente ao condomínio Princesa Isabel, na área central de Porto Alegre, por PMs lotados no 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), na noite de 17 de maio. Seu corpo foi encontrado dois dias depois, a cerca de 10 quilômetros de onde teria ocorrido a abordagem, no bairro Ponta Grossa, extremo sul da Capital.
O episódio ganhou repercussão depois que vizinhos de Vladimir realizaram protesto em que dois ônibus foram incendiados, na noite de 19 de maio. Em julho deste ano, quatro policiais militares foram denunciados pelo Ministério Público pela morte de Vladimir. Segundo a denúncia, os agentes torturaram Oliveira e arremessaram o corpo da Ponte do Guaíba. O caso corre sob sigilo. Os quatro negam envolvimento no crime.
Vídeo
Em novembro do ano passado, um vídeo que passou a circular na internet levou a Polícia Civil a desencadear nova ofensiva no condomínio. Nas imagens, dois homens apareciam armados na calçada do residencial, fazendo menção a uma facção rival. Na ofensiva, dois suspeitos foram presos temporariamente: o que fez a filmagem e um dos que aparecem exibindo as armas.
A ação também foi do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc). As prisões foram determinadas pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (seriam pistolas de calibre 9 milímetros), associação criminosa armada, e associação para o tráfico.