Com localização privilegiada e de fácil acesso, na região central da Capital, o condomínio Princesa Isabel é apontado pela polícia como um dos principais pontos de venda de drogas em Porto Alegre. No local, atua uma facção que tem origem no Vale do Sinos, considerada pelos investigadores a maior do Estado atualmente.
Em resposta a guerra de facções em Porto Alegre, a Polícia Civil fez uma ofensiva no local na manhã desta sexta-feira (7). O objetivo das equipes foi prender os envolvidos no ataque a um bar no bairro Campo Novo, na Zona Sul, no dia 4 de setembro, que deixou três mortos e 27 feridos.
Dois homens, que seriam os responsáveis por efetuar os disparos no atentado, foram localizados e presos preventivamente. Um terceiro alvo da ação não foi encontrado no local. Como também havia mandado de prisão contra ele, o suspeito é considerado foragido e está sendo procurado pela polícia. Foram cumpridos ainda 19 mandados de busca e mais de 10 celulares foram apreendidos.
Entre os fatores que fazem do local um ponto forte do tráfico, estão a localização e a arquitetura — as torres que costeiam o condomínio trazem privacidade para a prática de delitos. Além disso, o condomínio possui três portões de acesso, que dão para as avenidas Princesa Isabel, João Pessoa e Bento Gonçalves. Aos olhos do crime, as vias são oportunas rotas de fuga e também fáceis de serem monitoradas, em caso de ataque de grupo rival.
Apesar da atuação da facção no local, a maioria dos moradores não possui envolvimento com o tráfico, afirma o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). São 230 apartamentos no residencial. Investigações apontam que muitos moradores são coagidos e obrigados a guardarem armas e drogas dentro de casa.
— A maioria dos moradores ali não tem envolvimento com o tráfico. São algumas pessoas, poucas, que cometem esses atos ilícitos. Hoje mesmo, durante a operação, os moradores foram muito receptivos com as equipes. O que acontece é que são obrigados a esconder drogas, armas em casa. E os criminosos vão movimentando o material de apartamento, para evitar serem localizados durante operações.
Operações anteriores
O condomínio Princesa Isabel já havia sido palco de operações em anos anteriores. Em julho do ano passado, três homens foram presos em ação no local: um era foragido da Justiça e os outros dois — um deles usando tornozeleira eletrônica — foram detidos em flagrante por posse de armas e drogas. Na ocasião, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão, em ofensiva com cerca de 40 policiais, que contaram com apoio de um helicóptero.
Em 2017, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) cercou o complexo para deflagrar a Operação Dependência. Na época, 250 policiais fizeram buscas em 43 apartamentos com apoio de cães farejadores e de um helicóptero.
Na ocasião, os policiais também reuniram informações de moradores e fizeram mapeamento sobre o domínio do crime organizado no condomínio — se é alugado, próprio ou emprestado.
Também foi no condomínio que, em 2015, foi feito um grafite em homenagem a Alexandre Goulart Madeira, o Xandi, homem apontado como um dos principais traficantes da cidade, que foi morto naquele ano.