Passo toda hora a caminho do serviço junto ao condomínio que foi alvo, nesta sexta-feira (7), da maior ação policial em semanas. É um lugar de gente trabalhadora, situado em área estratégica, encravado entre três grandes avenidas de Porto Alegre - e, por isso mesmo, ambicionado pelos traficantes de drogas. A região ali é de intensa movimentação comercial e estudantil, não precisa dizer muito mais.
Pois o Departamento de Homicídios da Polícia Civil descobriu que partiu dali o "bonde" (agrupamento criminoso) que fez o mais devastador ataque na nova guerra do tráfico da Capital, uma incursão a tiros contra um bar com música ao vivo no bairro Campo Novo que deixou três mortos e 27 feridos, na noite de 4 de setembro. A imensa maioria das vítimas não tinha qualquer envolvimento com crime. Foi um ato de terrorismo de uma facção sobre uma área que tem influência de outra.
A facção que atua no condomínio da Princesa Isabel e que foi alvo de prisões nesta sexta é Os Manos, a maior do Estado, gestada no Vale do Sinos. A facção rival, que controla a região do Campo Novo, é a V7, nascida na Vila Cruzeiro. Brigaram por uma dívida com drogas, gerando uma espiral de violência que deixou mais de 70 mortos desde o início do ano.
Esse condomínio da região central está há mais de década sob influência da mesma facção. O primeiro grande "patrão" da região foi Alexandre Goulart Madeira, o Xandi. Ele era dono de uma produtora musical que empresariava shows de funk e pagode. Tinha também bares dedicados a shows. Ele foi assassinado em janeiro de 2015 numa casa de praia, em Tramandaí, emboscado com tiros de fuzil por uma quadrilha ligada a um rival da mesma facção. A motivação cogitada na época seria relacionada a ciúmes envolvendo uma mulher.
O rival de Xandi também não durou muito e foi trucidado na prisão, por aliados do traficante morto em Tramandaí.
Desde então o condomínio da Avenida Princesa Isabel passou ao controle de outros homens, mas também ligadas à mesma facção. O mais famoso deles é Renato Fão Gambini, que fez nome no meio criminal desde os anos 1990. Ele foi indiciado várias vezes como assaltante de carros-fortes. Depois de juntar dinheiro, segundo os policiais, começou a se dedicar à venda de drogas - está condenado por tráfico e por lavagem de dinheiro, usando a mesma produtora musical de Xandi. Ele foi indiciado este ano por receptar cargas de drogas vindas do Paraguai. Está recluso numa prisão de segurança máxima.
A operação desta sexta-feira é mais um duro recado dos policiais de Homicídios e da Brigada Militar às facções criminosas gaúchas. É hora de a matança parar. Ou serão descapitalizados e isolados, algo que costumam temer mais do que a morte.