Em resposta à guerra de facções em Porto Alegre, a Polícia Civil fez uma operação na manhã desta sexta-feira (7) no condomínio Princesa Isabel, na área central da cidade. O objetivo das equipes foi prender envolvidos no ataque a um bar no bairro Campo Novo, na Zona Sul, no dia 4 de setembro, que deixou três mortos e 27 feridos.
A ação envolveu cerca de 200 policiais civis e militares. Dois homens, que seriam os responsáveis por efetuar os disparos no atentado, foram localizados e presos preventivamente.
Um terceiro alvo da ação não foi encontrado no local. Como também havia mandado de prisão contra ele, o suspeito é considerado foragido e está sendo procurado pela polícia.
Foram cumpridos ainda 19 mandados de busca e apreensão. Mais de 10 celulares foram apreendidos.
A Operação Campo Novo é mais uma ofensiva das forças de segurança contra o conflito entre duas facções, que promoveram ataques na cidade nos últimos meses. Ao menos 34 pessoas morreram, entre agosto e setembro, em decorrência dessa disputa.
Um dos grupos criminosos envolvidos no conflito tem origem no Vale do Sinos e é considerado atualmente o maior do RS. É este grupo que atua no condomínio localizado na esquina das avenidas João Pessoa e Princesa Isabel, na área central, onde ocorreu a ação desta manhã. A outra facção envolvida tem origem na Vila Cruzeiro, na zona sul da Capital, e opera na região do Campo Novo.
Na operação, o objetivo foi prender três dos responsáveis por efetuar disparos contra o público que estava no bar no bairro Campo Novo, no atentado de setembro, além de apreender objetos que ajudem a confirmar a ligação dos criminosos com o ataque. Outros dois homens também estariam envolvidos no crime e são investigados.
Naquele domingo à noite, cerca de 80 pessoas estavam no estabelecimento. Os criminosos chegaram ao local em dois veículos. Ao menos quatro homens desceram dos carros e começaram a atirar contra os frequentadores.
Prisciele Letícia Castilhos Farias, 29 anos, e Dabson Jordan Simões de Moura, 23, morreram durante atendimento médico. Manoela Yres Campos Trapps, 17 anos, também foi atingida e morreu dias depois.
De acordo com o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira, a operação focou em capturar os autores dos disparos, mas a investigação quer responsabilizar também os mandantes do atentando, que são líderes da facção que estão presas.
— Hoje, a ação buscou prender quem realmente efetuou os disparos no bar. Mas o inquérito segue em andamento e vai alcançar também os mandantes, os líderes que deram a ordem para esse ataque. Esse é o objetivo do trabalho que temos feito, não só nesta investigação, mas em todas elas. Buscamos o indiciamento de quem praticou a ação e também dos mentores — diz.
No dia do ataque ao bar, segundo a polícia, estavam no local pessoas da comunidade e algumas de fora da região. O público era principalmente de jovens, mas havia crianças e pessoas com mais idade. Um dos feridos foi uma criança de quatro anos, que teve ferimento em um dos pés, e outro foi um adolescente de 14 anos, atingido com gravidade na cabeça.
A investigação apurou que apenas uma das pessoas feridas estaria vinculada ao grupo criminoso atuante na Zona Sul. As demais não tinham envolvimento.
A ação desta manhã foi coordenada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, com apoio da Brigada Militar. Atuam na ofensiva cem policiais civis e cem militares. Também foram utilizados na ação um helicóptero e cães farejadores.
Grupo promoveu escalada de violência
Segundo a polícia, além do ataque ao bar no Campo Novo, o grupo do Vale do Sinos também é responsável por outros casos violentos registrados na Capital nos últimos meses. Entre eles, o assassinato de um homem que depois foi decapitado e teve a cabeça deixada na região da Vila Cruzeiro, em agosto. Ele foi identificado como Zambi Rodrigues Barros, 29 anos, e teria ligação com o grupo criminoso rival, da Vila Cruzeiro, segundo a polícia.
Naquela mesma semana, ocorreram outros dois homicídios. Um na Avenida Teresina, no bairro Medianeira, no dia 31 de agosto, e outro na Avenida Luiz Guaranha, entre os bairros Cidade Baixa e Menino Deus, na noite de sábado (3). Nesse caso mais recente, um jovem de 25 anos foi morto a tiros e um adolescente ficou ferido. Todos esses ataques são creditados ao grupo do Vale do Sinos, conforme a investigação.
Em março, quando começaram os primeiros conflitos entres as facções rivais, ataques também foram feitos. Depois, em maio, a disputa foi sufocada por ações da polícia, como transferência de presos para fora do Estado. Em junho, quando a briga recomeçou, os ataques voltaram e com escalada no grau de violência.
— Não necessariamente se teve mais ataques ou mais vítimas nesses últimos meses, mas verificamos um maior grau de agressividade. Uma demonstração de força do grupo, com esses casos da decapitação, dos disparos onde há grande fluxo de pessoas. Nesse ataque do bar, por exemplo, 99% das pessoas que estavam ali eram da comunidade, estavam se divertindo. E esses criminosos tinham uma noção bem clara disso, de que estavam disparando contra pessoas que não tinham nenhum envolvimento com o crime. A intenção deles foi atingir o máximo de pessoas possível — pontua o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Conforme Garcia, a operação desta sexta é fruto de um trabalho de investigação "incansável", em que mais de 40 oitivas foram realizadas. As equipes ouviram vítimas do ataque e moradores da região e analisaram câmeras de monitoramento para chegar aos autores dos disparos. O inquérito segue em andamento.