O pagode realizado num bar na Rua Rio Grande, no bairro Campo Novo, na Zona Sul, estava se aproximando do fim, na noite do domingo, dia 4 de setembro, mas dezenas de pessoas ainda confraternizavam no local. Criminosos armados com pistolas e armas longas surgiram no meio da via disparando na direção dos frequentadores. O ataque, que levou pânico à comunidade, em meio à guerra de facções em Porto Alegre, provocou a morte de três pessoas e deixou outras 25 feridas. O caso está sob apuração da 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Desde aquela noite, os policiais vêm ouvindo testemunhas e vítimas que sobreviveram ao ataque. Pelo menos cerca de 80 pessoas estariam no bar no momento em que os atiradores passaram a disparar contra a multidão. Entre as vítimas baleadas, estavam mulheres e crianças. Uma delas, Prisciele Leticia Castilhos Farias, 29 anos, tombou com um disparo na cabeça. A filha dela, de apenas quatro anos, segundo a polícia, também foi baleada.
— A criança acabou sendo ferida e perdeu a mãe — descreve o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, evidenciando a violência empregada pelo grupo.
Dabson Jordan Simões de Moura, 23, anos também morreu ainda na noite de domingo. Hospitalizada, uma adolescente de 17 anos, identificada como Manoela Yres Campos, também perdeu a vida. Pelo menos outras duas pessoas precisaram permanecer hospitalizadas em razão de ferimentos graves.
— As pessoas que morreram e 99% das pessoas que ficaram feridas não tem vinculação com o crime. Estavam ali, naquele momento e foram surpreendidas com esse ataque dessa facção, que está em briga com a outra — diz o delegado.
Os relatos ouvidos das testemunhas até o momento levam a polícia a acreditar que podem ter sido empregados dois veículos na ação. Foram usadas pelos bandidos pistolas, parte delas com um kit que permite que a arma dispare com mais agilidade, funcionando como uma submetralhadora. As vítimas também relataram que haviam atiradores com armas longas. Alguns deles, mais de longe, como se estivessem protegendo os demais, mas pelo menos um deles com uma espingarda de calibre 12, atirando na direção dos frequentadores do bar.
— Eles não falaram nada, não pediram para ninguém sair. Atiraram sem mira. Simplesmente, desceram dos veículos e saíram atirando em todos que estavam na frente — descreve o delegado.
Também foram ouvidos relatos de que entre os frequentadores do bar havia algumas pessoas armadas, que chegaram a revidar os disparos, e depois escaparam do local. Durante o ataque, segundo as testemunhas, houve um momento em que os tiros cessaram e os criminosos chegaram a empreender fuga. No entanto, eles acabaram num beco sem saída e retornaram com o carro, passando novamente em frente ao bar.
— As pessoas dizem que houve primeira sequência grande de disparos, o carro sai, retorna e eles voltam a efetuar. Seriam dois momentos de disparos. Quando eles tentam fugir do local, a rua é sem saída, não conheciam bem. Vão e no retorno pela rua, voltam a disparar contra essas pessoas que ainda estavam no bar. Volta aquele cenário de horror todo de novo — detalha Pohlmann.
No local, foram recolhidos pelo menos 50 estojos de munição. No entanto, pelos relatos das testemunhas e sobreviventes a polícia acredita que tenham sido ainda mais disparos. Esses estojos foram recolhidos e serão analisados para fazer cruzamento com outros casos investigados pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Muitas vezes, a mesma arma é usada pelos grupos em diferentes crimes.
— Como temos bem clara essa guerra entre essas facções, todas as munições e armas apreendidas em algum dos lados desses grupos, estão sendo reunidas para serem submetidas à perícia. É possível que estojos encontrados naquela região coincidam com uma mesma arma localizada em outra — explica o delegado.
Cenário de outro ataque
Há quase sete anos, quando outro bar funcionava no local o mesmo endereço foi alvo de um ataque a tiros. Em novembro de 2015, na madrugada de uma quinta-feira quatro a cinco homens armados desembarcaram de um veículo e passaram a disparar contra pessoas que estavam no local. Pelo menos nove pessoas foram feridas por disparos na ação. Daquela vez, a suspeita também era de vinculação com o tráfico de drogas.
Segundo a polícia, o estabelecimento que foi atacado agora não pertence aos mesmos proprietários. Dessa vez, a motivação do ataque, conforme a investigação, é essa disputa entre facções criminosas de Porto Alegre. Além de ouvir cerca de 20 pessoas, entre testemunhas e vítimas, a polícia tem buscado reunir imagens de câmeras, entre outras ações.
— Acredito que eles fizeram tipo um revide a algum fato anterior, nessa guerra que está acontecendo. Poderiam saber de que na festa havia presença de alguns indivíduos que são vinculados ao grupo criminoso que trafica na região, mas quando chegaram, os disparos na realidade foram contra todos que estavam ali. Boa parte da nossa equipe está trabalhando nesse fato, tendo em vista a gravidade e extensão da quantidade de vítimas, com objetivo de identificar a prender os autores sem dúvidas alguma — diz o delegado.