A localização de uma cabeça na manhã desta quarta-feira (24) na zona sul de Porto Alegre pode ter ligação com o que seria uma segunda onda de conflitos promovidos por duas facções que atuam no Estado, similar a registrada em março em Porto Alegre. Conforme a Polícia Civil, as equipes trabalham para identificar quem é o homem que foi decapitado e depois teve a cabeça deixada na região da Vila Cruzeiro, na Capital.
Em março, Porto Alegre registrou ataques em sequência promovidos por duas facções, uma que atua na Vila Cruzeiro e outra no Vale do Sinos. Os conflitos deixaram uma série de mortes na Capital. Na ocasião, a polícia afirmou que a motivação seria uma dívida referente ao tráfico de drogas. O conflito entre os grupos foi sufocado, semanas depois, após diferentes medidas tomadas por forças de segurança, como a transferência de presos que estariam ordenando os ataques de dentro das prisões.
Essa disputa entre os grupos teria, no entanto, reacendido em 21 de junho, quando uma liderança do grupo atuante na Cruzeiro foi morta, explica o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira.
— Nós fizemos um levantamento de ocorrências dos últimos dois meses e percebemos uma segunda onda, digamos assim, de violência entre as duas facções que já tinham registrado conflito no mês de março. Agora, estamos verificando essas ocorrências, individualmente, para ver quais estão ligadas ao conflito entre os dois grupos.
Alguns fatores indicam que a cabeça encontrada nesta quarta-feira também pode ser resultado da briga entre as facções, diz o delegado:
— Um ponto é que a cabeça foi localizada exatamente na esquina da rua que é berço da facção atuante na Vila Cruzeiro. É possível que tenha relação com essa segunda onda, mas precisamos primeiro identificar o homem, para depois ter certeza sobre a motivação.
Segundo Eibert, a polícia já tem alguns nomes de quem pode ser o homem decapitado, mas ainda trabalha para confirmar a identificação. Uma das possibilidades é que a vítima seja um homem que foi arrebatado de dentro de casa na terça-feira (23), em outro local. As equipes também buscam identificar qual o veículo usado pelos criminosos.
Demonstração de poder
O delegado Gabriel Casanova Dantas, que atendeu a ocorrência no começo desta manhã, a define como "atípica", possivelmente feita para demonstrar poder.
— É uma ocorrência de violência acima do normal. A gente sabe que a região da Vila Cruzeiro é conflagrada, um local que registra diversos conflitos. A cabeça foi deixada em uma das principais avenidas dali, bastante movimentada, então causa um choque nas pessoas. Nesse momento, não descartamos nenhuma hipótese, porque ainda é cedo, mas quando há esse tipo de violência a ponto de decapitarem uma pessoa, o intuito é justamente mostrar poder, provocar temor sobre outra facção. Isso ocorre geralmente em ações que envolvem grupos que atuam no tráfico de drogas — diz Dantas.
Nesta manhã, a cabeça foi localizada dentro de um saco de lixo na Rua Cruzeiro do Sul, no bairro Santa Tereza. Ela foi jogada no local por indivíduos que passaram de carro pela via, por volta das 6h30min. Cerca de meia hora depois, um catador de lixo encontrou o saco plástico e acionou a polícia.
O rosto decapitado apresentava lesão que aparenta ter sido provocada por disparo de arma de fogo, além dos cortes no pescoço. A Polícia Civil, a Brigada Militar e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) também atenderam a ocorrência.